domingo, 10 de março de 2013
Capítulo 9 - O Motoqueiro Misterioso - 1ª Parte
Sexta-Feira.
Levantei cedo e escovei os dentes. Vesti meu uniforme escolar e desci à cozinha.
- Onde está meu pai, mãe? – perguntei.
- Ainda está dormindo, filho.
Meu pai era dorminhoco. Antes eu nem sabia onde ele trabalhava, mas agora que descobri – ou melhor, ele revelou – eu imaginava como ele se sentia cansado.
- Bem, depois que saímos atrás de um ladrão ontem de madrugada… - brinquei.
Minha mãe não gostou nadinha dessa brincadeira.
Ela me serviu com pãezinhos quentes, que acabara de comprar no mercadinho perto de casa.
Ela sempre acordava cedo. Uma vez perguntei a ela o porquê. Ela apenas respondera: “Fubuki, é tão lindo ver o dia amanhecer. O sol nascendo… Isso é a prova de que o mundo pode sim ser lindo!”.
De certo modo eu concordava, mas não tinha coragem de acordar tão cedo apenas para confirmar isso.
Chegando ao campus da escola Matsumoto, me encontrei com Natsuno, Joe e Yuuki. Olhei para esse último com certa perturbação, devido ao que meu pai me dissera essa madrugada. Ele realmente seria um vampiro?
Os cumprimentei, e Yuuki percebeu que eu estava diferente com ele.
No corredor, tentamos passar longe da senhorita Kobi, mas ela caminhou até nós.
- Por que estão andando tão devagar?! – nos perguntou, muito ignorante. – Depressa, para a sala!
Obedecemos, assustados com a sua cara feia.
- Por que será que ela só pega nos nossos pés? – resmungou Natsuno; a inspetora ouviu.
- O que você disse?! – ela perguntou de longe.
- Ah, nada não senhorita Kobi – Natsuno deu uma risadinha meio sem jeito (e claramente com medo da velha). – Desculpe-me.
Kobi só nos olhou com sua cara fechada - o que era normal.
Entramos na sala.
Assim que entramos um grupo de garotos nos cercou.
- O que foi? – perguntou Natsuno.
- Vamos montar nosso time agora – respondeu Masao –, essa aula não haverá professor.
- E qual seria? – perguntei.
- De História.
Estranhei.
O professor de História faltou justamente hoje, logo após meu pai ter matado o diretor? E os três valentões? Não os vi desde que cheguei. O que teria acontecido?
Yuuki ficou me observando. Eu podia perceber pelo canto do olho e, quando olhei para ele, ele desviou seu olhar. O que será que se passava em sua cabeça?
- Bom – falou Joe –, então vamos aproveitar.
Nos acomodamos nos fundos das fileiras do meio, onde a turma de Masao ficava durante as aulas. Ele pegou um lápis e um caderno.
- O goleiro com certeza será Koboshi – ele começou, anotando o nome de Koboshi num espaço de goleiro dentro de um campinho de futebol desenhado numa folha. – Joe e Mike serão nossos zagueiros e o lateral esquerdo será Tashima – ele olhou para Tashima, que assentiu –, e o direito será o Akira – o garoto baixinho deu um sorriso de orgulho de si próprio.
Certo, a defesa já estava montada. Quase metade do time estava em seu lugar. Eu estaria na outra parte?
- Yuuki será o volante. Na ala direita estará Kubisha – este era irmão gêmeo de Koboshi –, e na ala esquerda Ozoki – esse era um garoto alto de pele morena, aparentemente um zombador de nerds. – E, como todos sabem, eu serei o meia-armador, o camisa 10 do time, o homem que arma as jogadas, aquele que…
- Tá, tá – interrompeu Natsuno, impaciente, falando por todos nós –, continue.
- E o atacante será você, Natsuno.
Natsuno não se mostrou surpreso. Provavelmente ele já era muito conhecido entre os outros, e nos últimos anos era o atacante principal deles.
- E quem será o outro atacante? – perguntou alguém, cujo nome não estava entre os titulares do time.
Todos se entreolharam.
- É verdade. Não temos mais nenhum atacante, nem no time principal, nem no time reserva.
- E agora?
- Eu sou esse quem vocês estão procurando.
Todos olharam para quem falara. Era Riku, que eu nem reparara que havia chegado. Eu olhei em volta da sala e vi que Shimizu também não estava. Estranhei.
- Você? – perguntou Masao.
- Algum problema? – Riku não demonstrava nenhuma emoção, como sempre.
- Na verdade não – respondeu Masao. – Então está certo. Esse será o time. Depois das inscrições veremos os números das camisetas e treinaremos depois das aulas.
Todos assentiram.
Eu me senti frustrado, pois nem mencionaram meu nome. Eu sei que era cedo, mas eu queria estar lá, junto de Joe, Natsuno, Yuuki e… Riku.
Todos voltamos aos nossos lugares.
- Nosso time desse ano está muito forte – comentou Natsuno.
- É verdade – concordou Joe. – Pela primeira vez temos defesa, meio-campo e ataque completo.
Natsuno olhou para mim.
- Não se preocupe, Fubuki – disse, percebendo meu desapontamento. – Sua hora vai chegar.
- Espero que sim – respondi, insatisfeito.
Voltei a olhar em volta da sala, e Shimizu não estava lá. Eu realmente estava preocupado. Onde ela estaria? De repente senti um aperto no coração. Senti que alguma coisa estava acontecendo, só não sabia onde.
- Preocupado com a Shimizu? – perguntou Natsuno.
- Eu? – corei de imediato.
- Fica tranquilo, ela só… faltou. Isso é normal.
Foi aí que lembrei que o professor de História também tinha faltado.
Bateu o sinal.
Segunda aula.
O tempo foi passando, e a professora enchia a lousa de lição. Eu não conseguia copiar nada no caderno preocupado com a Shimizu. E o pior era que eu não podia fazer nada: não sabia onde ela morava e nem onde o professor de História estava, muito menos podia sair da escola antes da hora! Eu realmente estava muito angustiado.
De repente ouvimos um barulho de motor vindo lá de baixo. Nos assustamos. O barulho ia aumentando a cada segundo, até que nos levantamos e fomos para o corredor.
Foi aí que aconteceu a coisa mais estranha que eu já havia visto – um estranho normal, é claro. Um motoqueiro apareceu do nada no corredor em alta velocidade. Ele virou em nossa direção e pisou fundo. Tive a impressão de que ele estava vindo diretamente a mim. Ele chegava perto, e eu sentia cada vez mais um calor percorrer pelo meu sangue.
“VRRRRRUUUUUUUMMMMM!!!!!”, fazia o motor.
Todos voltaram para a sala correndo, assustados, enquanto eu ficava ali, paralisado, sem poder me mexer. A moto ia se aproximando, se aproximando, e eu não conseguia mexer nenhuma parte do meu corpo! Eu soava muito, um suor quente e, ao mesmo tempo, gelado.
- Sai daí, Fubuki – gritava os alunos da minha sala.
Mas como, sendo que eu nem conseguia me mover?
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