Quatro da tarde.
- Mãe, vou dar uma volta ao parque!
- Claro, filho – ela respondeu, lá do quarto. – Você já sabe a hora de voltar, né?
- Sei! – e fui.
Caminhei pensando em tudo o que havia acontecido desde quando me mudara para Tóquio, principalmente nas últimas horas. Eu estava surpreso quanto ao diretor da minha escola ser um vampiro. Tenho quase certeza que era ele quem me vigiava o tempo todo, seja em casa, seja na escola. Mas se ele quisesse realmente me matar ele já teria me matado. Então o que ele queria afinal?
Havia também o Hiroshima. Meu pai o conhecia de algum lugar. Provavelmente da organização Ko-Ketsu. Mas o que ele estava fazendo perto dos outros dois valentões, que também eram vampiros? – ou pelo menos eu tinha quase certeza quanto a isso. Meu pai pode até tê-lo atropelado, mas eu sentia que ele já ia morrer do mesmo jeito. Hiroshima foi espancado, e conseguiu fugir. E para sua sorte – ou azar, devido ao atropelamento – ele nos encontrou, e antes de morrer ainda tentou avisar algo sobre “Koyoshima”, “avisar” e “Pen-drive”. O que isso significava?
Eu vi que o professor de História faltou na escola hoje. E também apareceu aquele motoqueiro misterioso tentando me atropelar. Eu o segui até o encurralar, mas por minha surpresa ele fugiu, mas antes deixando um aviso: “Isso é apenas o começo”.
E a Shimizu? Por que também faltou? Pode ser uma falta normal. Mas também pode ter acontecido algo horrível com ela!
O que eu estava pensando? Algo horrível? Bom, tudo agora era horrível. Desde quando vi aqueles dentes de vampiros do diretor…
Me estremeci.
Cheguei ao parque ao mesmo tempo em que Zoe também chegava. Meu coração começou a bater mais forte – o que já era normal.
- Oi – falei.
- Oi.
Nos sentamos no mesmo banco de ontem, quando… bem, você sabe.
- Me desculpe por ontem, Zoe – disse a ela.
- Sem problemas.
Meu coração batia muito forte, eu sentia um entusiasmo muito grande, além de me sentir feliz ao lado dela.
- Zoe – eu disse –, sabe, eu não queria… você sabe, te beijar.
- Precisa ser tão rude assim? – ela estava de certo modo ofendida com a minha frase.
- Não, não – falei. – Você entendeu errado. Sabe, foi por impulso…
- Eu sei – ela respondeu, em tom triste.
- Quer dizer… eu não faria novamente.
- Grosso!
Ficamos em silêncio por alguns segundos, mas continuei:
- Calma, eu não disse que foi ruim! De certa forma eu até gostei… - essas palavras saíram sozinhas! Juro, eu até pensava isso, mas não queria dizê-las em voz alta!
Fiquei vermelho.
Olhei para Zoe e vi que ela também estava vermelha.
- Você… gostou? – ela perguntou.
Fiquei meio, sei lá, constrangido?
- Lembra-se da nossa conversa de ontem? – perguntei.
- Sobre o amor?
- Sim, sobre o amor.
- Lembro. Você disse que estava se sentindo sozinho, mas eu falei que na verdade era falta de um amor.
Nossos olhos se encontraram, onde percebi um brilho intenso no seu olhar, enquanto os garotos começavam a partida de futebol.
- Você está apaixonado por quem? – ela perguntou, com voz falhando, desviando o olhar.
Eu sabia que ela já havia percebido que eu estava apaixonado… mas por outra garota. Mas mesmo assim eu não queria magoar a Zoe. Ela era tão doce, tão meiga, tão simpática, tão especial para mim…
E agora? O que respondo? Não podia mentir para ela. Mas também não queria magoá-la. Lembrei-me de ontem, quando nos beijamos. Ela havia dito que me amava, o que me deixava ainda mais culpado e confuso.
- Por outra garota – respondi, com um aperto no coração.
Vi que ela estava quase chorando.
- Entendo – falou, afinal.
Olhei para a quadra, suspirando de culpa.
Depois voltei a olhar para Zoe, e passei a mão em seu lindo rostinho.
- Me desculpa – falei.
Ela olhou para mim, respondendo:
- Não se preocupe, Fubuki, eu já estou acostumada quanto a isso.
- Acostumada? – senti pena dela.
- Prefiro não comentar – uma lágrima escorreu pelo seu rosto; a enxuguei.
Percebi que não era o momento certo para lhe fazer perguntas, então fiquei em silêncio.
Ficamos alguns minutos sem falar nada, até que decidi abrir a boca:
- Zoe, eu não queria te magoar – falei. – Não sei o que deu em mim ontem, mas mesmo que o nosso beijo foi “por acidente”, eu, de certo modo… gostei – senti um alívio vindo dela. – Eu realmente estou apaixonado por outra, mas ainda assim…
- Você sente algo por mim – ela completou.
- Então você percebeu?
- Percebi. Percebi pelo jeito como você olha para mim, com um lindo brilho nos olhos. Mas, ao mesmo tempo em que você me ama, parece que você… me evita.
Senti um aperto muito forte no peito. Senti que Zoe não era feliz, mas mesmo assim fazia de tudo para não me deixar mal. O que realmente se passava em sua cabeça? Haveria no mundo alguém tão… legal assim? Havia sim. Ela.
Zoe olhou para mim com um lindo sorriso, que parecia um sorriso triste. Um sorriso muito triste. Por dentro eu chorava muito por ela. Eu sabia muito bem como era o sentimento de solidão. Mas além da solidão que Zoe sentia, ela também estava amando alguém que não a correspondia. Isso com certeza era muito duro.
A abracei o mais forte que podia. Não forte no sentido de força bruta, mas forte no sentido de emoção.
- Amigos? – perguntei, enquanto a abraçava.
- Amigos – ela respondeu, já parando de chorar. – Amigos para sempre.
Fiquei feliz.
Apesar de tudo o que sentia pela Shimizu, Zoe também era uma pessoa a quem eu amava. Mas torcia para ela parar de gostar de mim. Não queria fazê-la sofrer, muito menos por causa de outra garota. Zoe era gentil, simpática, meiga. Uma pessoa muito especial. Uma pessoa rara no mundo de hoje em dia, e eu estava prestes a fazê-la sofrer, e sofrer muito. Amar alguém sem ser correspondido seria pior que a solidão? Ou será que, na verdade, um era parte do outro? Solidão e amor não correspondido davam, com certeza, em tristeza. Ódio se encaixaria aí? Talvez. Mas Zoe não seria capaz de odiar, seria? E a depressão? Isso sim seria provável.
Isso tudo se resumia na culpa que eu sentia por Zoe. Parecia que eu carregava o céu nos meus ombros!
- Zoe – falei, depois do abraço.
- Fala, Fubuki.
- Quero que você saiba que eu nunca a deixarei. Sempre serei seu amigo, seja nos momentos bons, como nos momentos ruins. Serei seu melhor amigo, isso você pode ter certeza!
Ela sorriu.
Como era linda…
- Fico muito grata – ela respondeu.
Depois disso nos despedimos, e eu voltei para casa, pensando nesta conversa. Ela significava muito para mim, e para Zoe também. No final das contas, eu estava feliz. Com certeza Zoe encontraria alguém que a amaria tanto quanto a amo. Porque eu a amo muito. Por que não fico com ela? Por que apesar de eu gostar da Zoe, eu amava duas vezes mais Shimizu. Não posso simplesmente ficar com a Zoe. Shimizu também era muito especial para mim. Eu estava quase apaixonado por Zoe, ainda com algumas dúvidas. Mas Shimizu era certeza absoluta. Não entendo o porquê, apesar de eu conhecer mais a Zoe do que ela. Mas essas coisas vem do coração, e isso eu não posso controlar.
Vai saber sobre o coração… Duvido você o desvendar. Com certeza é o maior desafio do mundo. Será que alguém já o desvendou. Acho que não. E se sim? Eu particularmente prefiro desse jeito, confuso. Assim o amor tem mais graça!!!
Bom, mais um dia estava indo. Mais um longo dia.
Amanhã será sábado, um dia que não verei a Shimizu.
Tchau a todos, e espero que tenham aprendido pelo menos um pouco aqui sobre o amor. Tudo o que houve entre mim e Zoe reflete um pouco a situação de muitas pessoas. E se você ainda não foi uma delas, pode ter certeza que seu dia vai chegar – felizmente ou infelizmente. Por isso, esteja preparado(a) para essa situação, para não magoar alguém ou até ser magoado(a).
Entendido?
Tchau.
Acho que tudo entre mim e Zoe estava entendido. Mas o que aconteceria dali pra frente? Ela seguiria seu caminho e eu o meu? Ou, de alguma forma, acabaremos juntos? Shimizu ou Zoe? Essa é a grande dúvida. Descubra nos próximos capítulos de “O Caçador de Vampiros”.
Você não pode perder!
Acompanhem ^^
Woool' está ótima a sua história *--*
ResponderExcluir