- Vovó, cheguei! – gritou ele, assim que entramos.
- Está bem, Natsuno – respondeu uma senhora na cozinha.
Senti um cheiro muito bom, e percebi que vinha de lá.
- Minha vó é uma ótima cozinheira – comentou o garoto.
Subimos as escadas e chegamos a um corredor. Entramos no primeiro quarto da direita, que era enorme – pelo menos tinha o dobro de tamanho que o meu!
Havia a cama de Natsuno, com algumas estantes de livros e de brinquedos nas paredes. Ao lado da cama havia um computador e, em frente, uma cômoda com uma TV de 50 polegadas e um PS3. A janela tinha visão para as belas ruas e casas do bairro e, perto do guarda-roupa, havia um banheiro.
- Natsuno, você é rico? – perguntei.
Ele olhou para mim como se eu estivesse louco.
- O prêmio que recebemos do conselho é dinheiro. Você não sabia?
- Acho que não – respondi.
- Cara, acho que sei o porquê.
Ele pôs sua mochila em cima da cama.
- Aposto que seus tios paternos ainda estão no Brasil – disse ele.
- É… - confirmei. – Como você sabe?
- Meu pai e o seu são grandes amigos. Nossos clãs são enormes, mas a maioria dos meus parentes moram no Palácio do Relâmpago, que fica no Mundo Paralelo. Então eles nem usam muito o dinheiro que ganhamos. Já seu clã, acho que a maioria mora aqui na terra, por isso o dinheiro que sobra para o seu pai nem é tanto.
Acho que é verdade, pois meu pai tem uma familia enorme no Brasil. Tios, primos, irmãos...
- Mas todos os clãs são enormes? – perguntei.
- A maioria. Há alguns que nem tanto, e outros extintos. E o clã Takeda é um deles…
Isso me deixou com certa pena.
- Hiroshima… - falou Natsuno. – Você já soube, né?
- Sim – respondi. Eu sabia que ele havia morrido, mas não sabia que era o último membro, ainda mais de um dos Cinco Grandes!
Natsuno foi até o guarda-roupa e abriu uma das portas.
- Bom, isso é o meu trabalho – disse ele, mostrando vários potes especiais, todos de cor vermelha.
- Caramba, você já matou muitos vampiros - fiquei surpreso.
- Os últimos dois títulos são da nossa Tribo, por isso temos que honrar nossos pais e tios.
- Então o que estamos esperando? – falei entusiasmado – Vamos caçá-los!
Natsuno parecia meio triste.
- O único problema é que o conselho permite apenas trabalho de equipe.
- Trabalho de equipe? Como assim?
- Não posso caçar vampiros, a menos que outros dois caçadores ou mais venham comigo.
- Mas por que você chegou atrasado naquele dia na escola?
- Por que eu me encontrei com o meu pai.
- E quanto a esses potes? Não são desse ano?
- São… - sua voz falhou. Percebi que Natsuno estava triste, segurando lágrimas.
- Que foi, Natsuno? – perguntei.
- Em Janeiro desse ano, quando eu e a minha equipe caçávamos vampiros…
- O que houve? Aconteceu alguma coisa?
Escorreu uma lágrima no rosto dele.
- Caímos numa cilada. Fomos cercados por vampiros e… - sua voz novamente falhou.
- Entendo.
Percebi o que Natsuno queria dizer. Sua equipe morreu, mas ele não conseguia falar. Isso é muito difícil… perder amigos…, e desse assunto eu entendo perfeitamente. Mas o caso de Natsuno era diferente, pois ele não estava apenas longe de seus amigos, eles morreram.
Ele olhou para mim, e percebi que Natsuno estava mais confiante.
-Precisamos de mais uma pessoa. Até três é permitido para caçar vampiros, e já somos dois.
- Podemos chamar Riku – sugeri.
Natsuno olhou para mim.
- Você está maluco? Riku faz parte da Tribo rival, não podemos chamá-lo.
- Oh, meu Deus. Quem então?
- Precisamos resolver esse problema. Vou falar com o meu pai essa semana para ver se ele consegue alguém para nós.
- Está bem.
Olhei para o relógio e vi que já estava tarde.
- Natsuno, já vou indo.
- Mas já?
- Cara, minha mãe é muito chata. Deve estar preocupada comigo.
- Liga pra ela.
- Não vai dar. Não posso deixá-la sozinha em casa, ainda mais com vampiros atrás de mim.
- Ok – disse ele.
Então saímos do quarto dele e descemos.
Depois me despedi de Natsuno – percebi que ele ficou triste, acho que devido a morar num lugar muito vazio, sem poder ter amigos – e rumei para casa.
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