quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Capítulo 41 - Conhecendo o Mundo Paralelo: A Organização Ko-Ketsu - Parte Única

    Andamos muito pela cidade, e por onde passávamos, muitas pessoas faziam uma reverência ao meu pai, que respondia sempre com um sorriso. Eu não estava acostumado com aquilo, mas me sentia mais protegido. Parecia que todos daquela cidade eram protetores nosso. E, de certo modo, eram.
     Eu percebi que não existiam carros ali. Nem motos, apenas bicicletas. Mas era raro eu ver alguém usando uma. As pessoas gostavam de andar, estava na cara. Até que, finalmente, encontramos uma coisa não muito boa.
    Um homem muito forte - que estava ao lado de uma melancia no chão - ameaçava um rapaz magro que, provavelmente, vendia frutas, pois ele estava atrás de uma barraca cheia de bananas, maças, uvas e melancias. Muitas pessoas observavam a confusão, com medo. O homem forte o puxou pela blusa agressivamente, dizendo:
    - Quero meu dinheiro de volta!
    - Mas não foi culpa minha ter caído. Aliás, foi o senhor quem derrubou - o comerciante estava muito assustado.
    - Isso não importa! Eu paguei e quero a mercadoria.
    - Mas senhor...
    - "Mas" nada! - interrompeu-o o valentão.
    O pobre homem ficou imóvel, até que o outro o largou. Este esperava que o comerciante lhe desse outra melancia ou o seu dinheiro, mas nada aconteceu.
    De repente, o grandalhão derrubou a barraca de frutas do comerciante e avançou até ele, dando-lhe um soco na cara, assim o derrubando no chão. O magro murmurou de dor, e quando ia levar outro soco, meu pai já estava bloqueando seu ataque.
    - Acho melhor parar - disse Tony; o comerciante se mostrou muito aliviado.
    O valentão o olhou, tentando disfarçar o medo.
    - Senhor Kido, me desculpe, acontece que...
    Antes que ele pudesse terminar de falar, dois policiais já seguravam seu outro braço, o algemando com o braço que meu pai segurava.
    - Acho que não é pra mim que você deve se explicar - disse meu pai. Então os policiais conduziram o homem até uma viatura do outro lado da rua (o primeiro carro que eu havia visto) e o colocou na traseira, levando para, provavelmente, a delegacia.
    - Muito obrigado, senhor - disse o bom homem ao Tony, ainda assustado.
    - Não tem de quê - sorriu meu pai, o ajudando a levantar a barraca de madeira. Daí outras pessoas que estavam por perto ajudaram o comerciante a colocar as frutas de volta no lugar, enquanto meu pai vinha até mim.
    - Vamos?

    Depois de andar bastante, finalmente chegamos numa zona da cidade onde havia muitos edifícios de três ou quatro andares. Entre eles, um se destacava. E foi até ele que caminhamos.
    - Essa é a organização - falou meu pai.
    O edifício era maior que o BFM, tanto de largura quanto de altura. Tinha cerca de cinco andares, e suas paredes eram de um vermelho escuro muito forte, com lindos detalhes alaranjados nas janelas. O telhado escuro era como os telhados das outras casas da cidade: era pontudo no centro e curvo nas pontas. A porta era de aço, cuja borda também era alaranjada. Não havia seguranças ali. Meu pai se aproximou da entrada e, simplesmente, abriu.
    Estranhei.
    - Ninguém entra aqui - falou meu pai. - Ninguém é tão tolo.
    Estávamos numa pequena sala fechada, onde só havia a porta de entrada. Apesar de pequena, não era abafada. Uma lâmpada fluorescente amarela iluminava ali. Mas o mais estranho era que a lâmpada não ficava no teto, e sim na parede lateral à esquerda.
    De repente um fio de luz apareceu das duas paredes laterais e passou pelo meu corpo e pelo do meu pai, dos pés à cabeça, como se estivesse nos analisando.
    Era laser, daqueles que usam em museus para proteger algo. Mas, ao invés de ser vermelho, aquele era amarelo.
    - Boa tarde, senhores Tony e Fubuki Kido - disse uma voz de algum alto falante que eu não conseguia ver.
    - Boa tarde, Helena - falou meu pai ao nada.
    - Ér... Boa tarde - falei também, estranhando.
    O teto se abriu, me assustando. Não dava para ver nada adiante da abertura escura, mas eu sabia que ali havia muito espaço. Aquele com certeza era um lugar muito estranho, onde eu sabia que havia muitas surpresas.
    Me assustando, o chão que pisávamos começou a se mexer, e logo percebi que o mesmo estava subindo.
    - Quem é... Helena? - perguntei.
    - A voz - disse meu pai, simplificando.
    - Hum - falei.
    O chão continuava a subir lentamente, passando por um lugar muito escuro, me deixando com curiosidade de onde sairíamos. Até que, finalmente, parou. Eu não via nada além de paredes e do teto. Apesar de estarmos num lugar vazio e escuro, eu, de certo modo, enxergava um pouco.
    Percebi que meu pai também enxergava.
    A parede à nossa frente se abriu como se fosse uma porta. Tudo se iluminou, onde um clarão tomou minha visão por alguns instantes. Quando voltou, meu pai estava à minha frente. Caminhei até ele, e vi que estávamos numa espécie de parapeito.
    Fiquei pasmo quando olhei para baixo, o gigantesco pátio. Havia centenas de pessoas vagando por ali! Todas com algo para fazer, desde entregar papéis a outras, ou mandar recados. Era muita movimentação, e todas apressadas e preocupadas com algo, porém sempre sorridentes.
    Algumas davam gargalhadas, enquanto outras corriam e entravam numa mesma porta. A maioria estava armada com diferentes tipos de espadas.
    No pátio havia diversas mesas e cadeiras enfileiradas, além de diversos computadores ou outros tipos de objetos como rádios ou até celulares. De longe, percebi um rapaz - não muito velho - com fones de ouvido e, provavelmente, trocando de música no seu Iphone. Além de tudo isso, havia sofás, filtros de café, TVs, geladeiras e mais algumas coisas do cotidiano.
    Olhei para o meu pai, fascinado.
    Ele já era acostumado com aquilo, e apertou um botão no parapeito.
    Em seguida, o chão que estávamos pisando começou a descer. Enquanto descia lentamente, meu pai falou:
    - O que acha da organização Ko-Ketsu?
    - Muito legal - respondi, ainda encantado, observando o lugar.
    Finalmente chegamos ao térreo. Ali não havia janelas, mas ainda assim era um lugar muito agradável. As lâmpadas ficavam em lustres, mas parecia que era uma iluminação natural, solar. Não havia ventiladores ali, mas pelo lugar passava muita brisa. Eu sentia também o ar puro. Um ar muito bom, muito agradável.
    Eu realmente estava encantado.
    Meu pai me guiou rumo ao fundo do pátio, onde todos que estavam no caminho o cumprimentavam. Claramente, meu pai era o mais conhecido ali. Na verdade, todos se conheciam, mas meu pai era o mais famoso, o mais respeitado.
    Alguns me olhavam com certa admiração, outros nem ligavam tanto. Mas, enfim, eu estava feliz por conhecer aquilo. Havia pessoas de diversas idades lá, inclusive da minha. Havia mais homens do que mulheres, mas ainda assim havia meninas bonitas espalhadas por ali.
    Finalmente chegamos à sala. Entramos, onde me vi num lugar muito belo. Ali era uma espécie de escritório, porém era enorme. Um enorme sofá à direita, e uma TV em frente a ele. Em frente à porta por onde entramos, a uns vinte metros, uma janela. Estava aberta, dando passagem à luz solar. Fora isso, não havia mais nada.
    Olhei para o sofá, onde havia dois homens sentados. Um era muito parecido com um amigo meu.
    Meu pai foi até eles e os cumprimentou.
    - O que faz aqui, Tony? - perguntou o de cabelo roxo-escuro. - Pensei que você tinha ido visitar sua família - ele olhou para mim, e seu olhar era idêntico ao do meu melhor amigo.
    - E aí, Fubuki - ele me cumprimentou sem se levantar.
    Eu nem fiquei surpreso por ele saber meu nome. Aliás, por que ficaria? Muitas pessoas que eu nem conhecia sabia mesmo...
    Caminhei até ele, que me estendeu a mão:
    - Muito prazer, senhor Kogori - o cumprimentei, adivinhando quem era.
    - Pode me chamar de Hayato - sorriu ele.
    - Ok - falei; logo percebi que ele tinha a mesma personalidade de Natsuno.
    - Pelo visto seu pai decidiu te mostrar o Mundo Paralelo - disse o outro, soando meio antipático; apenas assenti.
    Ele me estendeu a mão, dizendo:
    - Muito prazer, Fubuki - suas mãos eram frias, e levei um choque quando percebi quem ele era. Aquelas mãos, aqueles olhos...
    - Digo o mesmo… senhor Mishimo - meu coração estava a mil. Então aquele era o pai da Shimizu?
    Era um homem de aparência jovem, cuja pele branca era muito macia, lembrando a de uma mulher. Admito que ele era bonito, mas seu rosto demonstrava que o homem era mal-humorado.
    Os dois voltaram a assistir TV, enquanto meu pai dizia:
    - Fubuki, quero lhe mostrar algo.

    Após sairmos da sala, caminhamos pelo pátio.
    - O Hayato é muito boa gente - falou meu pai. Depois ele olhou para mim com uma cara estranha: - Percebi que você ficou um pouco nervoso na frente do Shindo. O que houve?
   - Nada - menti; meu pai percebeu que eu não estava falando a verdade.
    - Ele não é muito de falar, mas ainda assim também é gente boa. Não precisa ter medo.
    - Nem fiquei com medo - protestei.
    - Então o que era? - meu pai soou desconfiado.
    - Nada, já falei. Apenas impressão sua.
    Meu pai ainda estava incerto sobre aquilo.
    - Fubuki, você está me escondendo algo?
    - Não, pai - respondi impaciente. - Fica frio.
    - Tá - foi a última palavra dele.
   Chegamos à porta e entramos. Estávamos agora num corredor curvo, onde tinha uma enorme vitrine no seu decorrer. Dentro dela, muitos objetos. Fomos ao primeiro ao nosso alcance:
    - Isso aqui é a espada de Taiyo Hentsu - disse meu pai, mostrando uma bela espada de cabo azul-marinho com alguns detalhes prata. Prata como a longa lâmina, de aproximadamente dois metros de comprimento.
    - E quem é esse? - indaguei.
    - O caçador dono do recorde. Ele foi o que mais destruiu vampiros em toda a história. Milhares. Não lembro quantos, mas nunca chegarei a essa marca - meu pai riu, mas parecia insatisfeito com aquilo.
    Caminhamos até o segundo objeto.
    - De quem era essa faca? - ri; era apenas uma faca. Muito bonita, mas eu preferiria mil vezes uma espada.
    - De um falecido amigo meu - respondeu meu pai, assumindo uma expressão triste; logo me arrependi da brincadeira.
    - Arc Dadilan foi o homem que matou o Rei Ogro da colina Rosan. Muitos tentaram em toda a história, mas ele foi o único que conseguiu. Ele era especialista com facas, e essa era uma especial. Foi criada pelos monges especialmente para ele que, com ela, matou o inimigo. Um inimigo muito poderoso, por sinal.
    Primeiro, eu fiquei impressionado sabendo que ogros existem. Depois, mais ainda, sabendo que o rei deles foi morto por uma faca.
    Caminhamos até o terceiro objeto.
    Foi aí que me assustei. Aquilo não era bem um objeto, era a cabeça de um vampiro horrível!
    - Pai, pra quê vocês guardariam a cabeça de um vampiro? - perguntei, ironizando.
    - Acontece que esse não é um vampiro comum - falou meu pai. - É a cabeça de um Vampiro-Demoníaco, uma raça muito rara. Só existe no Reino dos Vampiros.
    Me surpreendi. Quer dizer que alguém entrou lá e conseguiu sair vivo e, ainda por cima, com a cabeça de um vampiro?
    - Os Vampiros-Demoníacos são a raça mais forte e rara que existe, Fubuki. E você sabe quem foi que conseguiu arrancar a cabeça de um?
    Fiz um sinal de "não" com a cabeça.
    - Eu - respondeu Tony; fiquei, de certo modo, orgulhoso. Mas por que meu pai entraria no Reino dos Vampiros?
    Deixei esse assunto pra depois.
    Continuei reparando a cabeça do indivíduo. Ele era muito feio, ainda mais de boca aberta. Com certeza fora uma morte muito feia, pois sua boca estava completamente aberta, assim como seus olhos, sem vida, é claro. Seus cabelos negros eram bagunçados, e sua pele era avermelhada, com muitos pelos, parecendo um lobisomem. Seu nariz era enorme e suas orelhas pontudas.
    Apesar de tudo, seu rosto não estava danificado.
    No corredor havia outras pessoas e, sem querer, me esbarrei num garoto mais ou menos da minha idade, que também estava com o pai. A primeira coisa que reparei foi nos seus cabelos, que chamavam muita a atenção por ter um tom alaranjado muito forte.
    - Desculpe-me - pediu ele.
    - Que nada - falei, sorrindo; percebi que ele era gente boa. Nossos pais se cumprimentaram. Com certeza já se conheciam - Seu pai também está te mostrando o museu da organização? - perguntei.
    - Está sim - falou ele, tão ansioso quanto eu. - Muito legal, não acha?
    - Aham - assumi.
    - Aliás, meu nome é Inko Kuraima - ele me estendeu a mão, sorrindo.
    - Eu sou Fubuki Kido - a apertei.
    - Do clã do fogo - disse ele, meio que fascinado.
    - Esse mesmo - rimos.
    Seu pai também me cumprimentou, depois meu pai e eu continuamos a "jornada".
    Caminhamos até o quarto objeto.
    Era um pergaminho, muito velho.
    - Isso é o mapa que um pirata usava na época do 5° Caçador Lendário. Foi achado dentro de um navio afundado no Oceano das Águas Pesadas.
    Me surpreendi duplamente.
    Primeiramente, claro, por saber que existiam piratas. Depois, porque Águas Pesadas era um nome conhecido para mim. Eu sabia que existia o rio, mas nem imaginava que existia um oceano! Quero nem imaginar como seria nadar ali...
    - Foi muito milagre esse pergaminho resistir à agua - disse Tony; concordei.
    - Talvez não seja de papel - conclui.
    - Mas é - replicou meu pai, mas desinteressado no assunto.
    Fomos ao quinto objeto.
    Era uma coroa.
    Muito bela e brilhante. Dourada, claro. Havia muitas pedras preciosas embutidas nela, e percebi que algumas eram diamantes. A coroa era tradicional, como a de um rei de histórias em quadrinhos ou até de contos de fadas.
    Olhei para meu pai, e vi sua expressão novamente triste.
    - Vai me dizer que era de um amigo seu - falei.
    - Era sim - disse ele, falhando sua voz. - Meu melhor amigo.
    Fiquei espantado. Nunca imaginei que meu pai seria amigo de um rei.
    - Ele era rei de onde? - perguntei.
    - Do mundo todo - respondeu meu pai, me deixando ainda mais surpreso. - Pai de Hiroshima Takeda, membro do clã da Terra e, por fim, o 10° Caçador Lendário.
    Meu queixo caiu de vez.
    Então quer dizer que... o último caçador lendário era o melhor amigo do meu pai e... o pai do Hiroshima??
    Depois disso eu fiquei sem palavras.
    Quais histórias eu descobriria ainda?

    Fique atento ao próximo capítulo de "O Caçador de Vampiros".
    Você não pode perder!

    Acompanhem ^^

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