- E aí Fubuki, o que vamos fazer? – perguntou Natsuno.
Havia muitas mesas enfileiradas pelo lugar. Estávamos no fim da escada, onde ninguém podia nos ver. Perto de nós estava a cantina onde pegávamos nossos lanches. A diretoria ficava no fim do lugar. Ou seja, não tínhamos outra opção a não ser passar por todas aquelas faxineiras.
De repente, o sinal da escola tocou. Natsuno e eu estranhamos na hora! Não só nós dois, mas também todos os funcionários, que ficaram se perguntando o porquê daquele sinal. Então alguém disse, pelos auto-falantes que ficavam espalhados pelo colégio:
- Todos os faxineiros do refeitório, favor ir para o pátio principal.
Daí todos aqueles que limpavam o lugar, sem entender nada, entraram numa porta, que dava no pátio.
Eu e Natsuno ficamos aliviados e, ao mesmo tempo, muito surpresos.
- Aquela voz é familiar - disse Natsuno.
- Parecia do treinador Moshio Takahara - concordei.
Mas o importante era que o caminho estava limpo. Assim que o último faxineiro desapareceu, corremos em direção à diretoria, e Natsuno escorregou no piso molhado no meio do caminho e bateu a bunda no chão.
- Ai! - gritou.
- Não grite! - adverti.
- Foi mal. É que doeu... - ele se levantou, sentindo dores, e não pude deixar de rir, o que o irritou. - Vamos logo!
Continuamos correndo e entramos com cuidado no corredor da diretoria. Lá estava escuro e vazio. Estava até meio assustador. Não era muito grande, e havia cinco portas: as duas da direita eram os vestiários feminino/masculino e as duas da esquerda eram a sala dos professores e a sala do diretor. No final havia uma porta que dava na secretaria, e era lá o nosso destino.
Caminhamos lentamente, com receio de alguém aparecer. A luz estava apagada, então como estávamos completamente vestidos de pretos, eu mal conseguia ver Natsuno e vice-versa.
Finalmente chegamos.
Natsuno foi o primeiro a entrar, e sinalizou que o caminho estava limpo. Entrei também.
A secretaria era um lugar onde pessoas eram atendidas, na maioria das vezes pais ou parentes de alunos. Ali era um bom lugar para pegar informações, tanto pelo histórico de nota de um indivíduo quanto pelo seu comportamento. Lembro de ter vindo uma vez, no dia que persegui o motoqueiro. Foi uma mulher muito feia que atendera eu e meu pai. Mas ela não estava lá. Aliás, ninguém estava, apenas eu e Natsuno.
No lugar havia três portas. A da esquerda levava ao pátio principal. A que ficava na parede à nossa frente, mas bem no canto à esquerda, próximo à que levava ao pátio, era uma saída para as ruas. E, por último, a porta da direita, que levava à sala de arquivos.
Natsuno suspirou de alívio.
- Finalmente vamos completar esta missão.
- É - concordei, também aliviado.
Tentamos entrar na sala, mas estava trancada.
- Droga! - gritei baixo.
- Calma, a chave deve estar por aqui.
Sem pensar começamos a procurar. Abrimos diversas gavetas de armários, e nada de encontrarmos. Era quase um desespero, pois havíamos chegado tão longe para isso acontecer.
- Continue procurando - falei.
Procuramos, procuramos e nada.
- Na sala dos professores - sugeriu Natsuno.
Fomos para lá, onde também havia muitos armários e estantes de livros. Procuramos cerca de dez minutos, mas nada.
- Não temos muito tempo - falei, olhando para o relógio. Eram exatamente sete e quarenta e cinco. - Quando fecharem todas as portas estaremos ferrados.
- Vamos à sala do diretor - disse Natsuno.
Fomos para lá. Assim que entrei, tive calafrios. Aquela era a sala do diretor que me atacara. Eu sei que desde que meu pai o exterminou contrataram outro, mas ainda assim ali havia um ambiente estranho, como se ele ainda estivesse ali, como se aquela sala ainda fosse dele.
- Fubuki, você está bem? - perguntou Natsuno, percebendo minha tremedeira.
- Estou, fica tranquilo - o acalmei. - Foram só as lembranças - Natsuno entendeu.
Naquela sala havia retratos antigos, com certeza de antigos diretores. Uma janela só, que estava trancada. Sem falar que dava visão ao pátio.
Começamos a procurar no único armário que tinha, mas não havia nada lá. Fui até a mesa do diretor e abri as gavetas. Havia cinco, e foi na ultima que achei uma chave.
- Achei! - comemorei.
- Será que é essa mesmo? - indagou Natsuno.
- Não sei, mas até agora foi a única que achamos - sorri.
Corremos até a secretaria e tentamos abrir a porta da sala dos arquivos.
Conseguimos.
Entramos rapidamente, e no lugar continha muitos armários, todos organizados de acordo com as salas. Fomos, claro, até o armário da sala 2, e abrimos a grande gaveta, onde havia vários históricos escolares dos alunos. Estava em ordem alfabética, então foi fácil achar o da Shimizu. Peguei o papel. Mas, assim que peguei...
- O que estão fazendo aqui? - era um dos inspetores da escola.
Natsuno e eu cobrimos nossas caras com as "toucas de bandidos" e corremos em direção ao homem. Ele pensou que íamos atacar ele, por isso fez um gesto de defesa, mas apenas passamos por ele e saímos da sala. Abrimos a porta que dava ao corredor e disparamos, com ele logo atrás.
- Voltem aqui! - gritou.
Corremos sem olhar para trás. Estávamos perto da porta que dava ao refeitório, e eu torcia para o mesmo estar vazio ainda.
Abrimos a porta, e nos deparamos com alguns faxineiros. Não eram tantos como antes, mas todos ficaram assustados, pensando ser um assalto. Corremos em direção à escada, com o inspetor gritando:
- Peguem ladrão! Peguem ladrão!
Da porta do pátio principal apareceram alguns seguranças, atraídos, provavelmente, pelo grito do homem. Eram quatro, e foram atrás de nós.
- Droga! - exclamou Natsuno - Acho que não tem como piorar!
Assim que falou isso apareceram dois na escada. Sem pensar e sem outra escolha, os atacamos com chutes. Os dois ficaram caídos, enquanto subíamos as escadas, com os quatro seguranças e o inspetor ainda correndo atrás de nós.
Estávamos, agora, no andar de cima, e corremos em direção à escada que levava aos fundos do colégio. Passamos pelas salas 9 e 10, sempre desviando das faxineiras assustadas que encontrávamos pelo caminho.
Descemos as escadas tão rápidos que quase cai. Estávamos agora no corredor do fundo, onde havia a porta que levava à sala dos funcionários e outra que dava no bosque. Escolhemos, claro, a segunda opção.
Assim que saímos nos vemos cercados por três guardas. Natsuno e eu aceleramos mais ainda, rumo ao campo de futebol, que ficava à nossa esquerda.
Cada vez mais apareciam seguranças e guardas atrás de nós, sem falar o inspetor, que gritava igual louco:
- Peguem os ladrões!
Corríamos a toda velocidade e, assim que entramos no campo, alguém disse:
- Aqui!
Fomos até ele, que estava perto do banco de reservas, e nos escondemos atrás de algumas placas grandes que estavam lá.
- Fiquem quietos - era o treinador Takahara.
Fizemos o que ele pediu.
De repente, ouvimos alguém se aproximando. Eram muitos passos, e então percebemos que eram os seguranças e o inspetor.
Eles foram até o treinador, que estava na frente das placas, e o inspetor perguntou:
- Takahara, você viu dois indivíduos passando por aqui?
- Não - mentiu Takahara, lamentando.
- Tem certeza? - a voz do inspetor levava muita malícia e desconfiança.
O treinador demorou um pouco e respondeu:
- Olha, agora que você insistiu, acho que vi dois vultos pretos correndo pra lá - e apontou para a esquerda, ao norte do bosque.
- Deve ser eles - disse outra voz, provavelmente um dos guardas. - Os dois estavam vestidos de pretos.
- Então vamos antes que eles escapem!
Então assim que todos já estavam longe, saímos do nosso esconderijo, e perguntei:
- Por que nos ajudou, treinador?
Ele olhou muito furioso para nós e falou:
- Saiam logo daqui!
Natsuno e eu ficamos muito assustados, então atravessamos o campo correndo sentido leste do bosque, por onde entramos no começo da missão. Quando já estávamos um pouco longe me virei para trás e ainda falei, mais pra mim mesmo do que pra ele:
- Obrigado, treinador! - e continuamos.
As grades em cima do muro ainda estavam desligadas, então pulamos para a rua.
Foi um enorme alívio quando saímos da escola, e corremos em direção à minha casa.
Passamos pelo campus da escola - que estava deserto - e pegamos a rua que ia ao meu bairro. Natsuno e eu estávamos muito cansados e com a adrenalina ao máximo. Mas o mais importante era que eu estava com os dados da Shimizu na minha mão. Era uma folha de papel com seu nome e sobrenome, endereço, número residencial e mais alguns dados, tudo dentro de um envelope, também de papel.
- Vamos parar um pouco - pediu Natsuno, cansado.
Já estávamos longe da escola, então concordei. Nos sentamos no banco de um ponto de ônibus de uma rua pouco movimentada, e o descanso foi incrível. Parecia que tínhamos ido a uma guerra.
No final, estávamos sorridentes. Conseguimos completar a missão, então decidi ver logo os dados da garota.
- Agora vamos desvendar o mistério - falei; Natsuno sorriu.
Olhei para o papel e li:
- Shimizu Mishimo, data de nascimento... Telefone... Aqui! O endereço! - olhei para Natsuno, e me arrepiei quando vi que ele estava de boca aberta olhando para o papel. - Natsuno? - estranhei.
- Eu não acredito! - disse ele; não entendi nada.
Com certeza era algo relacionado ao papel. Li novamente:
- Shimizu Mishimo... - foi ai que percebi: - Peraí! Mishimo... Já ouvi esse sobrenome em algum lugar...
Foi aí que veio a lembrança de quando Natsuno me explicara sobre clãs na escola há alguns dias:
***
- Tá - falei, confuso.
- E os maiores são os que têm enormes palácios. Dentre eles se destacam os Cinco Grandes.
- Cinco grandes?
- Sim, cada um representa um elemento: a água, a terra, o fogo, o ar e o relâmpago. Dentre esses cinco grandes tem o clã Takeda, Mishimo, Masaki, Kogori e, o principal, o clã Kido.
***
Ele fez que sim com a cabeça e inseriu:
- E, além disso, ela faz parte dos Cinco Grandes - essa descoberta foi, com certeza, uma das maiores surpresas da minha vida!
Shimizu também é caçadora?!! Como não percebi antes? E ela era de um dos Cinco Grandes! O que faço? Será que ela percebeu que também sou caçador? Ou talvez ela nem saiba sobre a sua história? Não perca os próximos capítulos de "O Caçador de Vampiros".
Você não pode perder!
Acompanhem ^^
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