Fiz minha rotina de sempre e fui para a escola. Aliás, era segunda-feira, dia de aula.
No campus, encontrei Natsuno, Riku, Joe e Yuuki. Nos cumprimentamos.
Já na sala, vi Shimizu. Ela nem sequer olhou na minha cara de tão desapontada que estava. Eu também nem tive coragem de ir falar com ela. Minha mãe sempre diz que é bom dar tempo ao tempo, e essa era a minha decisão final, pelo menos por enquanto.
Nos acomodamos nas cadeiras e Natsuno me perguntou:
- E aí, qual é a missão?
- Que missão? – interveio Yuuki.
- É muito secreta e simples – respondi. – Quero descobrir onde Shimizu mora.
- Ah, só isso? – riu Joe – Basta seguí-la na hora de ir embora.
Todos olhamos para ele, que corou:
- O que foi?
- Você acha que somos rápidos o suficiente para seguirmos o carro que leva ela sempre?! – advertiu Natsuno.
- É mesmo, desculpa – Joe deu uma risadinha, meio sem jeito.
O professor chegou na sala, mas ainda assim falei:
- Natsuno, você já fez isso antes, lembra?
- Lembro sim. Foi quando descobri seu endereço.
- Isso! – falei tão alto que todos da sala me olharam, inclusive o professor e a Shimizu; fiquei sem jeito.
- Mas Fubuki – cochichou Natsuno –, não foi tão fácil assim. Na verdade, foi muito trabalhoso. Quase que me pegam.
- Mas não pegaram – lembrei.
- E quando vocês pretendem fazer isso? – indagou Yuuki.
Olhei para Natsuno, que me olhou de volta.
- Hoje a noite – disse ele –, é quando não há mais aulas, mas a escola estará com suas portas abertas, pois é também a hora que os funcionários fazem a faxina e outros veem se está tudo em ordem - assenti.
- Então está fechado – falei baixo, sorrindo. – Hoje às sete horas nos encontramos no campus – ele sorriu também.
- Boa sorte pra vocês – falou Yuuki.
- Obrigado – agradeci.
- E tomem cuidado com a senhorita Kobi – lembrou Joe; todos rimos.
O céu estava escurecendo, e ia dar sete da noite quando cheguei ao campus. E lá estava Natsuno, me esperando. Me surpreendi quando vi que ele também veio completamente de preto. Depois de ver minha roupa, ele disse:
- Parece que somos espiões – rimos. – Fubuki, pra quê essa faixa vermelha na testa? – me perguntou, vendo minha bandana.
- Era do meu pai – respondi. – Me dará sorte.
Olhei para o enorme prédio da escola Matsumoto, que tinha suas luzes todas acesas na noite escura.
- Como entraremos? – perguntei, pois o portão principal estava fechado.
- Pelos fundos.
Contornamos a lateral direita da escola, onde a rua era muito mais vazia que qualquer outra ali nas redondezas. Havia algumas casas, mas ninguém na rua, apenas alguns carros estacionados. Ali era um bairro onde as pessoas só ficavam em casa, e isso era um ponto positivo na nossa missão.
Chegamos num muro enorme com uma cerca de linhas finas em cima. O pior era que havia diversas placas dizendo para não nos aproximarmos dessa cerca, porque a eletricidade a protegia contra intrusos. Olhei para Natsuno, que não se mostrava preocupado. Ele caminhou na direção do muro e começou a escalar normalmente. Depois passou pela cerca como se fosse uma cerca comum.
Fiquei completamente espantado!
- Natsuno… - gaguejei.
Ele olhou para mim e sorriu:
- Sou imune ao choque – explicou. – Acho que devido a eu ser do clã Kogori, do relâmpago.
Natsuno, dali de cima, olhou para dentro da escola e pulou para o gramado do bosque. Caminhou pela direita até chegar ao ginásio, e abriu algo na parede, aparentemente um disjuntor. Ele fez alguma coisa (apertou alguns botões), e depois fez sinal pra eu pular também. Com um pouco de medo, escalei o muro e cheguei à cerca elétrica, e nada aconteceu.
Suspirei de alívio.
Daí passei para o lado de dentro, e Natsuno veio até mim.
- Entramos – falei. – Agora o próximo passo.
Assim que falei isso, Natsuno me puxou para trás de uma árvore, e então percebi a causa: um guarda estava vagando pelo bosque com uma lanterna em mão, provavelmente para ver se estava tudo em ordem. Ficamos escondidos até ele sumir de vista.
- Precisamos tomar cuidado com eles – disse Natsuno. – Há alguns pelo lugar.
Ao contrário do prédio, o busque estava muito escuro. Seus postes de luz estavam apagados, pelo menos a maioria. Estávamos na parte direita da escola, bem ao fundo, onde havia o ginásio e muitas árvores. No centro do bosque continha uma bela fonte de água. No centro da fonte, uma espécie de poste. Acho que era a única parte iluminada do lugar, e de longe pude perceber que havia dois guardas sentados num banco perto da fonte. Era incrível o tamanho do bosque. Mesmo na escuridão, dava para ver que o prédio Matsumoto ainda estava longe, pelo menos a uns cem metros.
- Vamos – cochichou Natsuno.
Caminhamos sentido sul do lugar (rumo ao prédio) lentamente, tomando cuidado para não sermos vistos pelos guardas. O gramado era bem tratado, o que facilitava nossa missão. Havia um guarda à nossa frente com sua lanterna. Ele estava de costas para nós.
Natsuno apontou para a direita, para desviarmos do indivíduo, mas, assim que demos um passo, apareceu outro. Rapidamente nos escondemos na primeira árvore que achamos.
- Encontrou alguma coisa? – perguntou o guarda que aparecera, que era negro.
- Não – respondeu o outro, se virando para o primeiro. O negro se aproximou dele. - Como será que sumiu essa peruca? – questionou o branco; o negro não respondeu.
Natsuno e eu nos entreolhamos. Não falamos nada, mas era como se perguntássemos um ao outro: que peruca?
- A senhorita Kobi está uma fera – comentou o negro.
- Temos que achar logo, senão vai sobrar para nós – daí os dois guardas andaram sentido norte do bosque, passando por mim e Natsuno, mas tomamos cuidado para eles não nos ver.
- Parece que tem mais guardas do que eu pensava – disse Natsuno, lamentando.
- Vamos continuar! – falei – Se podemos destruir vampiros, por que não podemos nos infiltrar numa simples escola?
Natsuno concordou.
Continuamos andando.
O céu já estava bem mais escuro do que antes, e eu quase não via Natsuno graças à sua roupa. O lugar também ficava um pouco assustador, pois aquelas árvores me lembravam a floresta atrás da minha casa, com seus troncos enormes e seu clima assombroso.
Finalmente chegamos perto. O prédio estava a apenas quinze metros de nós. O único problema era que tinha dois guardas perto do portão do fundo, e o lugar já era bem iluminado.
- Droga! – resmungou Natsuno.
- O que faremos? - perguntei.
O Kogori pensou, analisou o cenário onde estávamos e quando chegou a uma conclusão, falou:
- Aprenda!
Ele subiu na árvore que estávamos escondidos, sacou sua Takohyusei e cortou um galho com cuidado. Depois desceu e, com força, jogou na fonte de água, que estava a uns quarenta metros de onde estávamos. Com o barulho da água, os guardas que estavam no banco se assustaram e se levantaram, gritando:
- Aqui!
De repente, os dois que estavam na porta correram na direção da fonte, daí aproveitamos e corremos até o portão. Natsuno entrou e depois foi a minha vez. Antes de fechar o portão, ainda olhei para a fonte, e vi dezenas de guardas vasculhando por perto.
Sorri.
- Ótima mira, hein Natsuno – ele fez um gesto de vitória.
Estávamos no meio de um corredor longo. Nas duas pontas havia escadas que levavam ao andar de cima, onde se situavam as salas dos primeiros anos. Na nossa frente, uma porta. Provavelmente era a sala central dos faxineiros.
- Tive uma ideia – falou Natsuno; fiquei curioso.
Estávamos numa sala muito bem organizada, cheia de vassouras, rodos, pás e esfregões, além de alguns objetos estranhos também. Natsuno procurava algo, e eu não sabia o que era.
- O que procura? – decidi perguntar.
- Uniformes – respondeu ele; foi aí que entendi.
- Natsuno – falei –, essa é a sala dos materiais dos faxineiros, o que quer dizer que seus uniformes não ficam aqui.
Natsuno quase caiu de tanta decepção.
- Então eles levam pra casa? – falou ele, cabisbaixo.
- Não, não – disse eu. – Pra falar a verdade, parece que eles têm uma sala onde deixam suas roupas de trabalho.
- E onde fica? – perguntou o garoto de imediato.
- Não sei – essa resposta o deixou ainda mais de baixo astral. – Mas não podemos desistir – falei. – Temos que pegar o que precisamos para darmos o fora logo daqui. Estamos muito longe para voltarmos atrás.
- É! – concordou o garoto.
Olhei para fora pela brechinha da porta, e estava tudo em ordem. Depois caminhamos vagarosamente pela esquerda, rumo à escada, quando apareceu uma sombra bem na nossa frente. Era alguém descendo a escada! Natsuno e eu corremos a toda velocidade para a outra ponta do corredor. Subiríamos pela escada da ponta direita, que deixava o caminho mais longo.
Antes de virarmos a curva, ainda olhei para ver se estava tudo limpo. E estava.
Subimos rapidamente, até chegarmos no corredor do segundo andar. Estávamos bem no meio, perto do corredor que levava à escada do pátio principal.
Natsuno e eu nos escondemos assim que vimos uma faxineira esfregando o chão, na metade do corredor, bem na frente da sala 9.
- Teremos que rodear o corredor inteiro – falei.
- E tudo por causa de uma faxineira – resmungou ele.
Rodeamos, sempre atentos ao caso de aparecer alguém. Felizmente ocorreu tudo bem. Passamos pelas salas 12, 13, 14, 1, 2, 3, 4, 5, 6 e, quando íamos passar pela sala 7, saiu uma faxineira da mesma, nos assustando. A sorte foi que ela não nos viu, por isso entramos na sala 6 num salto.
- Droga! – exclamamos, dentro da sala.
- O que faremos? – perguntou Natsuno.
Olhei em volta, e fiquei besta quando vi o que nos salvaria.
- Tem certeza que isso vai dar certo? – perguntou Natsuno, na escuridão do balde.
Havia três baldes grandes vazios na sala. Provavelmente deixados por algum faxineiro que iria limpar ali mais tarde. Simplesmente viramos eles de ponta cabeça e colocamos sobre nós, assim caminharíamos por toda parte sem sermos descobertos.
- Lógico! – afirmei.
Havia apenas um furo (que eu mesmo fiz) que me dava visão para o lado de fora do balde. Fui o primeiro a sair da sala. A faxineira estava de costas, fuçando seu celular. Caminhei debaixo do balde em sua direção, com Natsuno atrás. Assim que ela se virou, ficamos imóveis.
A moça não desconfiou de nada e passou por nós. Agora o caminho estava limpo. Rumamos ao final do corredor, na curva que dava na escada que descia até o refeitório. Havia outra faxineira que aparecera no fim do corredor, perto das salas 8 e 9. Ela esfregou o chão e veio em nossa direção.
- Droga! – falei a mim mesmo.
Se ela continuasse, com certeza tentaria tirar os baldes que encontraria no caminho (no caso, os que estavam escondendo eu e o Natsuno) e certamente nos descobriria. Natsuno e eu ficamos parados, paralisados. Não podíamos fazer nada, apenas esperar um milagre.
A moça vinha esfregando o chão, muito perto de nós. Centímetro por centímetro ia se aproximando.
Eu suava.
Tudo ia pro ar se ela nos descobrisse, e isso não podia acontecer. Estávamos longes, e mesmo se não estivéssemos seria horrível ser pegos e com nossos pais chamados pela escola. Pensariam que estávamos roubando algo. Ou até a Kobi pensaria que éramos os ladrões de sua peruca! Não, isso não!
Quando o esfregão estava a apenas meio metro de mim, a faxineira disse:
- O que esses baldes fazem aqui?
Ela encostou o esfregão na parede e caminhou na minha direção, até que:
- Amiga, me ajuda aqui? – pediu alguma mulher que estava atrás de nós; pela minha ótima audição percebi que ela estava no fim do corredor, provavelmente em frente à sala 5.
- Com o quê? – a faxineira que estava na minha frente indagou.
- Deixei alguns baldes na sala 6. São grandes iguais esses aí – provavelmente apontou para os nossos. – Me ajuda?
- Claro! – a moça desviou de nós e caminhou sentido sala 6.
Ligeiramente giramos 360° com os baldes, e podemos ver as duas entrando na sala 6. Não pensamos duas vezes: Natsuno e eu saímos debaixo dos baldes e corremos até a escada do refeitório. Ainda pudemos ouvir a faxineira:
- Que estranho! Não estão aqui!
Descemos a escada rapidamente, até chegarmos ao refeitório. Estávamos aliviados por ter saído daquela enrascada, mas tivemos uma forte decepção ao chegar ao refeitório. Ficamos surpresos com a quantidade de faxineiros que continham no lugar.
- Agora sim estamos perdidos – falei, rindo atoa. Mas naquele momento de frustração não havia nada de engraçado.
Estamos infiltrados no colégio Matsumoto! Apesar de parecer simples, esta missão está sendo muito complicada, ainda mais agora que nos deparamos com vários faxineiros de uma só vez. Conseguiremos continuar sem ser vistos? Ou a nossa missão acaba aqui? Fique sabendo no próximo capítulo de "O Caçador de Vampiros".
Você não pode perder!
Acompanhem ^^
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