Era sábado, e eu havia acabado de conhecer uma nova garota.
Ynna era o nome dela.
Ela me deu praticamente conselhos amorosos, organizando meus sentimentos. Contei toda a minha situação para ela e ela… me ajudou! E o pior era que ela estava certa, onde falou que o que eu sentia pela Zoe era apenas atração, e que eu estava apaixonado apenas pela Shimizu. Isso, de certo modo, me deixava com um sentimento de culpa, pois Zoe ainda gostava de mim. Ela era a minha melhor amiga, e sofria graças a mim com um amor não correspondido. Mas as duas estavam magoadas comigo: Zoe e Shimizu. O que eu tenho que fazer para me explicar com elas? Essa foi a pergunta que rondou pela minha cabeça a manhã toda.
Começou a chover.
Levantei da minha cama (lugar onde eu estava refletindo) e fechei a janela do meu quarto. Depois desci para almoçar.
Na cozinha, minha mãe terminava de fazer o almoço enquanto Kaori lavava a louça. Meu tio estava na sala assistindo TV, e foi para lá que eu fui.
Na sala da minha casa havia uma poltrona e dois sofás: um grande (onde cabiam no máximo cinco pessoas) e um pequeno (com capacidade para três). Meu tio ocupava completamente o sofá menor. Sentei-me no outro.
Ele olhou para mim e perguntou:
- Qual o motivo da sua felicidade?
- Que felicidade?
- Você está muito sorridente hoje. Fala aí: o que houve?
Decidi contar a história da Ynna – a primeira vez que a vi (no fundo do rio) e o encontro no campus, onde ela organizara meus sentimentos. Meu tio apenas disse:
- Interessante…
- E estranho também – inseri.
- Mas você acredita em anjos da guarda?
Ri e respondi:
- Tio, se existem vampiros e pessoas com superpoderes, você acha que eu não acreditaria em anjos?
Meu tio deu uma risadinha e concordou.
Depois fomos almoçar.
Após o almoço, subi ao andar superior da minha casa. Não fui ao meu quarto, apenas até o final do corredor. Lá havia uma janela que dava visão à rua em frente a minha casa, então decidi abri-la. Fiquei observando a chuva, que não estava muito forte. Comecei me lembrando do beijo, onde Zoe e eu não aguentamos a tentação. O beijo era ótimo, e eu não queria admitir. Mas Shimizu viu tudo… Tentei imaginar como ela descobrira onde eu morava. Será que fez a mesma coisa que Natsuno? Pois Natsuno disse que fuçou os arquivos da escola Matsumoto e encontrou o meu endereço.
Foi aí que tive uma ideia.
E se eu fizesse o mesmo, para descobrir onde Shimizu morava? Era isso mesmo o que eu ia fazer, e ainda hoje. Corri lá para baixo e peguei um guarda-chuva. Quando abri a porta:
- Vai aonde com essa chuva, filho? – perguntou dona Sanae, chegando do mercado com Kaori.
- Só dar uma volta – menti. Minha mãe claramente percebeu que eu estava mentindo, mas me deixou ir.
Billy apareceu.
- Au-au! – latiu ele; sorri. Depois o peguei no colo.
Mas assim que cheguei na rua, fui barrado por Riku.
Me assustei:
- Riku?
Caminhávamos rumo ao parque, e eu não entendia o porquê de o Riku ter me barrado e ter me chamado. Ele começou:
- Não percebeu nada de estranho, Fubuki?
- Estranho? Como assim?
O guarda-chuva de Riku era igualzinho ao meu, completamente preto e grande. Eu carregava Billy no colo, que olhava estranhamente para o garoto. Riku continuou:
- Névoa intensa de manhã e chuva à tarde – foi aí que entendi. Riku estava certo, pois, normalmente, quando tem neblina no começo do dia é sinal de que o dia será ensolarado, e hoje não estava.
- Você está falando que a chuva é muito estranha, certo?
- Errado. A única coisa estranha é a névoa.
Eu não estava entendendo nada. O que Riku queria dizer com aquilo?
Pensei que entraríamos no parque, mas passamos direto. Para onde estávamos indo?
- Você é caçador é já deveria saber – advertiu ele.
- Saber o quê? – indaguei, muito confuso.
- Fubuki – ele olhou para mim –, toda vez que acontece isso, neblina e chuva no mesmo dia, é sinal de que um herói centenário… foi morto – imediatamente me assustei. A primeira pessoa que pensei foi Natsuno.
- Quem morreu? – perguntei.
- Não o conheço, mas sei que ele é do clã Mishimo.
Eu não lembrava do nome, mas Riku explicou:
- Mishimo faz parte dos Cinco Grandes, é o clã da água – me espantei na hora.
- Então quer dizer que mataram um herói dos Cinco Grandes? – Riku fez que sim.
- Encontraram seu corpo terça-feira nas margens do Rio Sangrento.
- Rio Sangrento? – eu não sabia onde era, mas só o nome me deixava com calafrios. Me estremeci.
- Fica no Mundo Paralelo, próximo às montanhas territoriais do Reino dos Vampiros – fiquei mais espantado ainda.
- Então você está dizendo que ele foi morto por vampiros?
- Que, provavelmente, estavam em bando.
Aquilo me deixava muito triste, pois era um herói centenário, que fazia parte do Mishimo que, se eu não me engano, era da mesma Tribo que a minha.
- Riku – perguntei –, por que você está me dizendo isso?
Ele olhou para o chão e disse:
- Os próximos seremos nós – essa resposta me atingiu em cheio. Como assim seríamos os próximos? Morreremos? Meu coração começou a disparar, e admito que eu estava com medo. Quem não estaria? Um herói centenário tinha morrido, por que não morreríamos também? Afinal, Natsuno e eu ainda éramos aprendizes.
Lembrei-me de Hiroshima. Ele também era um herói centenário, e estava morto. Será que a sua morte e a morte do herói Mishimo tem alguma ligação?
Eu definitivamente estava assustado.
Billy também se mostrava com medo, e latiu para mim.
- Fica frio – falei a ele.
Ficamos em silêncio por bastante tempo, e ainda caminhávamos pelas ruas desertas do meu bairro. A chuva estava bem mais fraca, mas já começava a esfriar.
Decidi perguntar:
- Para onde estamos indo?
Riku não respondeu, o que me deixou irritado.
Ele me guiou para a verdadeira (ou nova) entrada para a floresta, onde uma placa indicava: FLORESTA REGIONAL. FAVOR, NÃO JOGAR LIXO OU ENTULHO. Ela claramente estava fechada com o seu portão de aço, e acho que estava em construção. Provavelmente viraria um parque.
Olhei para Riku.
Ele simplesmente escalou o enorme portão e pulou para o lado de dentro, deixando seu guarda-chuva na calçada. Fiz o mesmo, mas com Billy no colo. A chuva estava quase parando, mas as minhas botas estavam sujas de lama.
Riku não me esperou e caminhou rumo à floresta. Caminhamos em silêncio por cerca de cinco minutos até chegarmos numa espécie de caverna. Eu não sabia que havia uma caverna naquela floresta, mas Riku, pelo jeito, conhecia bem o lugar. Entramos no lugar escuro, e Riku acendeu uma lanterna.
- Riku, você vai me explicar o que estamos fazendo nesse lugar? – perguntei.
- Você verá.
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