Apesar de estarmos no território dos vampiros, eu não sentia medo. Pelo contrário, minha vontade era de invadir e combater todos os inimigos que estariam ali. Claro que seria loucura, mas a minha vida era uma loucura.
Riku já voltava sua expressão para o normal (dele, claro). Perguntei:
- O que faremos?
- Vamos voltar ao mundo humano – respondeu ele suavemente.
O portal estava à minha esquerda, numa árvore. Roxo e estranho, girando entre si em diversas direções, capaz de confundir a cabeça de qualquer um que tentasse seguir seus movimentos.
Riku se virou e entrou no portal, desaparecendo por detrás do círculo arroxeado. Peguei Billy no colo e dei mais uma olhada no lugar, um cenário absolutamente radical e assustador. Depois respirei fundo e entrei também.
Passei pelo mesmo processo confuso, depois me vi na caverna novamente. Riku me esperava, e quando apareci ele caminhou até a rocha no fundo da caverna e apertou-a exatamente onde estava a única imagem, uma espécie de letra de outro idioma. A passagem onde ficava o portal se fechou, e depois fomos para fora da câmara secreta.
As plataformas que pisamos minutos atrás estavam como as encontramos, então já sabíamos o que fazer. Pisamos nas duas ao mesmo tempo: eu na da direita e Riku na da esquerda. Daí a parede desceu do teto, fazendo um barulho muito forte de rocha encostando em rocha multiplicado por mil vezes, até que tudo estava “ao normal”.
- Assim ninguém saberá que estivemos aqui – explicou Riku.
Ele ascendeu sua lanterna e saímos do lugar.
Estávamos agora na floresta novamente.
Me surpreendia quando vi que o sol já saía, deixando o dia bem mais belo e vivo. Sem sinal de chuva, muito menos de nuvens pesadas. Aquele cenário me tranquilizou muito, comparado ao Reino dos Vampiros. Era incrível a diferença, de um lugar comum com um lugar demoníaco. Lá parecia que estávamos no inferno! Mas saímos de lá sem nenhum problema, porém eu sabia que um dia teríamos que voltar.
Caminhamos em silêncio até a entrada da floresta. Pulamos o portão e nossos guarda-chuvas ainda estavam jogados no chão.
- O que faremos depois? – perguntei a Riku.
- Pensaremos num plano com mais calma – respondeu ele. – Não podemos agir sem ter motivos concretos. Somos fracos comparados aos nossos inimigos, e se invadíssemos seu Reino, morreríamos em vão – essa frase saiu com frieza, me deixando com segurança e com um pouco mais de alerta.
- Certo – assenti.
Depois voltamos para casa.
No meio do caminho, parei no parque perto da minha casa, onde já havia algumas crianças brincando. Riku foi para sua casa, enquanto eu ia para um dos bancos, o mesmo de sempre.
Sentei e fiquei pensando sobre a nossa descoberta, o Reino dos Vampiros.
Eu sabia que existiam vários deles pelo mundo, mas nunca imaginei um lugar como aquele. Os vampiros tinham uma gigantesca fortaleza, e com certeza eram organizados. Só aquela ponte já era uma amostra. Sem falar os pássaros gigantes voadores, que lembravam os dinossauros. Provavelmente eram seguranças do seu terrível castelo.
Fiquei imaginando se algum dia entraríamos ali. Senti um pouco de medo. Quando estávamos lá, eu só sentia entusiasmo, mas agora parece que a ficha finalmente caiu. Era um lugar devastador. Vimos apenas o cenário (ou parte dele). Quero nem imaginar a quantidade de vampiros que vivem ali.
Por fim parei de pensar nisso.
Olhei para o meu relógio e vi que já ia dar cinco da tarde. Decidi levantar e voltei para casa, com o cachorrinho ao meu lado, caminhando alegremente, o que achei estranho.
- Onde você estava, Fubuki? – perguntou meu tio, assim que entrei em casa.
Fiquei inseguro sobre o que falar, mas decidi que deixaria tudo em segredo.
- Na casa do Riku – menti.
Michael estava assistindo TV, então nem ligou muito para a minha resposta.
Passei pela sala (onde minha mãe e Kaori também estavam assistindo) e subi a escada, até o meu quarto.
Amanhã vai ser domingo, e vai fazer três semanas que estou em Tóquio. Três longas e emocionantes semanas, onde conheci vários amigos, me apaixonei, e descobri como a minha vida seria futuramente. Muitas coisas já aconteceram, mas tenho ainda anos e anos de aventura e perigos pela frente. E isso me deixava feliz!!!
Fui direto ao meu computador, onde mexi no meu Facebook (fazia mais de vinte dias que não via), onde falei com os meus amigos de Okinawa. Se fosse antes, quando tinha acabado de chegar na cidade, eu com certeza ficaria muito triste e solitário, mas foi ao contrário. Fiquei feliz e satisfeito. Todos estavam bem, o que era o mais importante. Assisti alguns animes online e pesquisei algumas coisas de vampiros. Fiquei das cinco da tarde até nove da noite na internet, quando desci para jantar. Depois fiquei na sala conversando com a minha família e fui dormir depois das dez, tranquilamente.
Era domingo.
Acordei exatamente onze horas da manhã. Levantei e me espreguicei. As cortinas das janelas do meu quarto já estavam abertas, dando passagem à luz solar.
Ouvi um barulho na floresta, e fui ver o que era pela janela.
Meu tio estava vestindo um estranho quimono, se aquecendo. Assim que me viu, me chamou:
- Ei Fubuki, bora treinar!
Depois de ter escovado os dentes e de ter tomado café, fui até ele. Assim que cheguei até Michael, ele me entregou um pano vermelho.
- Pra quê serve? – perguntei.
- Seu pai usava na época que saia em diversas aventuras. Amarre-a na testa, isto é uma bandana – sorri e coloquei a bandana. Amarrei forte, e me senti mais leve. Depois começamos o treino.
Chegou a hora do almoço e a comida estava ótima.
Depois de almoçar, fui até o parque. Estava um pouco cheio, e me sentei no mesmo banco. Fiquei observando os rapazes jogando bola, até que alguém sentou ao meu lado. Era Zoe.
Me surpreendi na hora, enquanto meu coração disparava.
- Zoe?
Ela sorriu.
- Oi – disse, com sua linda voz.
Automaticamente ri. Ela não entendeu; nem eu.
- Desculpa pelo ocorrido – falou, cortando meus risos.
Eu não sabia o que falar. Não sabia se contava sobre meus sentimentos agora ou depois. Não sabia se aceitava as desculpas ou se pedia desculpas. Ela me olhava intensamente com o seu lindo olhar. Um olhar apaixonante. Estava linda. Vestia uma blusa sem manga, com um short jeans, não muito curto. Suas roupas combinavam com seu belo corpo. Seus cabelos estavam soltos. Castanhos e lisos. Sua pele bronzeada sincronizava perfeitamente com seus olhos verdes. Seu sorriso a deixava ainda mais magnífica. Mas ainda assim eu não estava apaixonado por ela. Só não entendia o porquê. Zoe era perfeita!
No final, respondi:
- Se preocupa não, eu te entendo. Na verdade era eu quem deveria pedir desculpas. Eu não deveria… você sabe – ficamos vermelhos. Zoe, envergonhada, desviou seu olhar para a quadra de futsal.
- Não foi culpa sua, Fubuki – ela disse suavemente. – Sabe, não foi só você que me beijou. Pra falar a verdade nunca vi um beijo de uma pessoa só. Nos beijamos e ponto. Não podemos evitar isso. Não sei se foi um erro meu ou seu, ou se de nós dois, mas aconteceu, e não podemos voltar atrás.
Essas palavras me tranquilizaram completamente. Tirou metade do peso que eu tinha na consciência. Zoe me entendia completamente, o que me surpreendia. Esse era o seu dom. Mas ainda assim eu sentia que ela sofria muito. Por detrás desse sorriso todo que ela carregava, com certeza havia lágrimas escondidas. Essa era a outra metade do peso que eu tinha na cabeça.
- Obrigado – falei, afinal.
- Por quê?
- Por tudo! – Zoe sorriu, aparentemente feliz.
Ela olhou para o céu e, depois de alguns segundos, para mim, e disse:
- Ela realmente é linda.
- Hã? – perguntei, em choque.
- A Shimizu – corei. Zoe e Shimizu se viram pela primeira vez, e da mais estranha forma possível. Mas para Zoe isso não importava.
- Ah – foi o que eu disse.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, até nos despedirmos e irmos para casa.
- Natsuno? – estranhei, assim que cheguei na calçada em frente à minha casa.
- E aí Fubuki! – ele me cumprimentou, sorridente e alegre.
Natsuno foi bem tratado por minha mãe, Kaori e meu tio Michael, e fomos até meu quarto.
- Não se compara ao seu, mas gosto muito daqui – falei, assim que entramos.
- Aqui é ótimo, Fubuki – Natsuno parecia muito agradado com o meu quarto. – Queria ter a sua sorte.
Estranhei.
- Como assim? – perguntei.
- Sabe, você tem uma família e tudo mais…
Senti uma certa tristeza na hora. Natsuno vivia com a avó, pois seus outros parentes viviam no Mundo Paralelo, sem falar que sua mãe estava falecida.
- Ah, meus tios estão aqui só por uns dias – foi o que consegui falar. Mas logo lembrei: - Natsuno, por que você veio me procurar?
- Riku já me contou tudo.
Fiquei em silêncio.
- O que vamos fazer? – perguntou ele, muito sério.
- Não sei ainda. Seria loucura invadirmos aquele lugar – expliquei.
- Mas muitos caçadores estão sendo mortos por bandos, inclusive heróis centenários! Você já ficou sabendo do herói de Mishimo?
Fiz que sim.
- Fubuki, temos que tentar nos infiltrar no território deles.
- Mas como?
Essa resposta acabou com Natsuno.
- Acho melhor pensarmos juntos com o meu pai – falei; Natsuno concordou.
Depois sua expressão mudou:
- E aí, qual as novidades?
Ri e respondi:
- Cara, muitas.
- Então já pode começar.
Contei tudo o que aconteceu na sexta e no sábado para ele: o beijo, o encontro da Zoe com a Shimizu e a aparição da Ynna. No final, Natsuno estava de boca aberta.
- Então você tem! – disse ele, muito surpreso.
- Tem o quê? – perguntei, confuso.
- Um anjo da guarda!
- Ah, Natsuno, isso é besteira.
- Não é não. São poucas as pessoas que têm eles ao seu lado. Fubuki, você é muito sortudo. – Não pude deixar de rir. – Ela é bonita?
- Muito – respondi.
- Aí sim, hein – e riu.
Depois conversamos mais um pouco, até Natsuno se despedir. Já na porta, ainda falei antes de ele ir embora:
- Amanhã temos uma missãozinha, muito secreta.
- O que é? – perguntou ele, muito curioso.
- Você saberá – depois ele foi embora e voltei para casa.
Preparei uma missão muito especial, onde participarei junto de Natsuno. Se ele topar, é claro. Tá curioso? Quer saber qual será essa missão? Então descubra no próximo capítulo de "O Caçador de Vampiros".
Você não pode perder!
Acompanhem ^^
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