quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capítulo 3 - Instinto Defensivo - 2ª Parte


    Depois das três primeiras aulas bateu o sinal.
    Descemos para o intervalo.
    Enquanto Natsuno, Joe e Yuuki achavam alguma mesa para nos sentar, tratei de pegar um lugar na fila do lanche, que não estava muito cheia.
    Os três garotos que me encarara ontem passaram perto de mim; senti um arrepio, ao mesmo tempo em que sentia um calor percorrer meu sangue.
    - Hoje estou a fim de bater em alguém – comentou um.
    - Eu também – concordou outro; logo percebi que tinham a intenção de que eu ouvisse, mas ignorei.
    Pararam a uns três metros de mim, quando o terceiro disse:
    - Que tal batermos naquele cara ali? – sugeriu, apontando em minha direção.
    - Boa ideia!
    Os três se aproximaram de mim. Eu ainda era o sétimo da fila, então perguntei como quem não quer nada:
    - O que vocês querem?
    O que tinha cabelos loiros deu uma risada horrível, depois respondeu:
    - Você não vai gostar nadinha de saber!
    Eu os encarei. Senti que eles pensavam que eu ia correr, mas eu apenas disse:
    - Não quero confusão.
    - E quem disse que pedimos a sua permissão? – o outro chegou mais perto.
    As pessoas da fila se afastaram, fazendo, junto com outras, um círculo, onde estava dentro apenas eu e os três valentões.
    - Vamos acabar com ele! – falou um dos três aos seus companheiros.
    - Certo! – os outros concordaram.
    Eu estava preparado.
    Eu sabia que uma hora eu teria que brigar, então não estava com medo.
    Mas os olhei fixamente nos olhos, quando percebi algo avermelhado nos dos dois da esquerda.
    O que era aquilo?
    Não era normal uma pessoa ter olhos vermelhos. E eles não eram os únicos que eu havia visto com a mesma aparência em três dias! Senti um arrepio muito forte, algo que me perturbava naqueles olhos.
    Fiquei imóvel, sem conseguir me mexer.
    O que estava havendo comigo?
    Tentei mexer meu braço, mas não deu. Tentei mexer minha perna, não deu.
    E agora?
    Então quando um dos valentões ia me acertar com sua enorme mão:
    - O deixem em paz! – gritou alguém com voz familiar. Era Natsuno, entrando no círculo com Yuuki e Joe.
    - Natsuno? – fiquei surpreso, já me livrando da paralisação.
    - Eu não falei que não deixaríamos os valentões dessa escola te bater, Fubuki? – lembrou-me.
    - Parece que os três patetas estão atacando de novo – falou Joe; eles ficaram furiosos.
    - Quem você chamou de três patetas?! – perguntou um completamente nervoso.
    - Está nervosinho, Hiroshima? – ironizou Natsuno.
    - Vou lhes mostrar quem realmente somos! – disse o loiro, já se preparando com seus companheiros para o ataque.
    - É só vir! – falei, entusiasmado.
    Daí alguém que estava no meio da multidão de curiosos gritou:
    - BRIGA!!
    Em seguida todos os outros começaram a gritar repetitivamente:
    - Briga! Briga! Briga! Briga!...
    Estávamos nos encarando seriamente, prontos para o combate. Mas quando íamos “nos atacar”, alguém gritou:
    - Fubuki, não!
    Olhei para o lado e vi que era Shimizu.
    - Não se meta nisso, garotinha! – gritou Hiroshima.
    Ela entrou na roda e falou a eles:
    - Vocês se acham os valentões, né? Não têm vergonha de quererem bater numa pessoa nova aqui?! Vocês são completamente covardes!
    - Cale-se! – gritou outro dos três, muito irritado.
    Esse último que falou tentou atingir Shimizu com um soco, mas num movimento eu já estava lá, bloqueando seu ataque, segurando sua mão enorme comparada à minha.
    Fez-se um silêncio.
    Todos estavam surpresos, principalmente eu. Como parara ali tão de repente?! As pessoas voltaram a gritar “Briga! Briga! Briga!...”.
    O braço daquele cara era muito pesado. E, para piorar, enquanto eu segurava seu soco, o loiro se preparava para me atacar, quando:
    - Pare com isso, Matsuki! – era o diretor, que aparecera do nada no meio da multidão; Shimizu deixou escapar um profundo suspiro de alívio.
   Finalmente a barulheira parou, agora estavam todos em extremo silêncio, atenciosos.
    - Senhor Diretor?! – Matsuki ficou obviamente assustado. – Eu… eu posso explicar…
    - Ah, claro que pode… mas lá na minha sala!!
    Natsuno se aproximou do diretor e falou:
    - Senhor Diretor, não me leve, por favor, eu estava apenas defendendo meu amigo desses canalhas...
    - Não se preocupe, garoto – interrompeu-o o diretor, sem olhar para ele –, conheço bem esses três.
    Ele deu uma leve olhada para mim – o que me provocou arrepios, pois seus olhos ficaram vermelhos por um instante! – e depois deu meia volta e seguiu em direção à diretoria, levando consigo os três valentões, que nos olharam com muita raiva antes de ir.
    A multidão estava se desfazendo.
    De repente, me assustei:
    - Estou de olho em você! – advertiu Kobi, com seu tom ignorante de sempre e com sua cara terrivelmente assustadora.
    - Hã? – foi o que consegui dizer.
    Mas ela não me deu mais atenção e foi em direção à diretoria, provavelmente para acompanhar a conversa do diretor com os três valentões.
    - Que mulher estranha… - comentei a mim mesmo, ainda com o coração disparado, devido ao susto.  
    Bateu o sinal, e todos voltaram para as suas respectivas salas, enquanto eu observava os valentões saindo, pensando na sensação que sentira perto deles – e perto do diretor também.
    - Liga não, Fubuki – comentou Natsuno comigo –, eles não são de receber bem os novatos.
    - Acho que percebi – brinquei; Natsuno, Yuuki e Joe foram em direção à escada que levava às salas.
    Dei uma olhada em minha volta, e lá estava Riku, bem distante das outras pessoas, subindo as escadas. Senti uma tristeza por ele, pois sabia como ele estava se sentindo. Acho que o pior sentimento que existe é a solidão. Isso nos deixa em muito baixo-astral.
    - Obrigado… hã, por me defender – falei à Shimizu, que ainda estava parada num canto.
    - Eu te defendi? – ela ironizou – Acho que devo uma a você.
    - Que isso – fiquei vermelho.
    Ela não segurou sua risada, me deixando constrangido.
    - O que foi? – perguntei.
    - Ah, nada – ela respondeu, sorrindo –, é que você fica muito fofinho quando está envergonhado – então passou a mão no meu rosto e acrescentou: - Vamos voltar para sala, todos já subiram.
    E era verdade, pois havia apenas nós dois no refeitório.
    - Vamos – concordei.  
    Juntos voltamos para a sala.

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