sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Capítulo 2 - Olhos Vermelhos & Presenças Assustadoras - 2ª Parte


    Quando chegou a hora do intervalo – depois da terceira aula – todos descemos ao refeitório, como de costume. Estávamos descendo, Natsuno, Yuuki, Joe e eu, quando olhei para trás para ver se via Shimizu, que ficara na sala guardando suas coisas. Mas o que vi foram apenas os três grandalhões de ontem me encarando, todos provavelmente do 2° ano. Mas o que me chamou a atenção neles foram seus olhos (olhos de apenas dois garotos dos três), que ficaram avermelhados por uma fração de segundo.
    Ignorei e fui tomar o café escolar.
    No refeitório, Kobi ficava olhando para nós quatro parecendo desconfiar de algo. Mas apenas ignoramos. Todos comiam educadamente, a não ser Joe. Sua refeição valia pela minha, a de Natsuno e a de Yuuki juntas! Sem falar que ele comia muito rápido, quase sem respirar. Era muito engraçado.
    Bateu o sinal.
    Voltamos para sala, onde passamos as três últimas aulas em extrema chatice.
    Até que veio a salvação: o sinal de saída.
    Despedi-me de Natsuno, Joe e Yuuki. Depois fui até Shimizu, que estava no campus, rumando a um carro preto estacionado.
    Quando cheguei perto dela perguntei:
    - Você mora muito longe daqui? – eu sei que era uma idiotice uma pergunta dessas, mas não pensei em mais nada naquela hora.
    Mas me surpreendi quando ela parou e me respondeu:
    - Não muito, mas meu pai insiste que eu vá e volte de carro. Ele diz que é por segurança.
    - Entendo – senti que fiquei vermelho. – Então… hã… é só isso. Nos vemos amanhã então, certo?
    - Sim, com toda certeza.
    - Tchau.
    - Tchau – ela entrou no veículo, que partiu.
    Fiquei observando enquanto o carro virava a rua, pensando no lindo rosto daquela garota; em sua voz, em seu jeito...
    Fui embora.

    O caminho foi extremamente normal, embora eu tivesse uma leve impressão de estar sendo observado o tempo todo. Cheguei em casa, onde vi minha mãe fazendo nosso almoço.
    Eu não entendia o porquê das aulas escolares serem tão longas.
    Troquei de roupa no meu quarto e desci para a sala. Liguei a TV e assisti a alguns programas de esportes.
    Almocei.
    Depois decidi ir um pouco lá para fora.
    Havia alguns garotos da minha idade, mais novos e mais velhos do que eu jogando bola na rua.
    Dirigi-me ao parque do meu bairro, que ficava a uns três quarteirões de casa. Na parte onde havia brinquedos (escorregador, gangorra e balançador) estava cheia de crianças e bebês. Já na quadra vi outros garotos jogando bola.
    Sentei-me num dos bancos perto da cerca que separava a quadra da pistinha para ciclistas e fiquei assistindo às partidas de futsal. Até me chamaram para jogar também, mas não aceitei, não estava com nenhum pouco de vontade, nenhum entusiasmo.
    Sentia muita falta dos meus amigos de Okinawa. Era como se fôssemos uma família, uma família que eu jamais tive.
    Minha mãe era adotada, e meu pai tinha sua família no Brasil, então eu não havia primos nem tios por perto. A não ser o “irmão” da minha mãe e meus “avós maternos”.
    Por isso eu convivia com meus amigos. Mas depois dessa mudança, dessa maldita mudança, eu me sentia agora solitário...
    Mas não tinha apenas o lado ruim desta história. Eu conheci Shimizu, com certeza o primeiro amor da minha vida. Pensava nela dia e noite, apesar de tão pouco tempo ter a conhecido. Quer dizer, não a conheci tanto assim, mas sentia como se a conhecesse há muito tempo.
    No banco um pouco mais distante do meu havia um garoto. Ele também estava assistindo à partida de futebol, mas sem nenhuma expressão no rosto. Senti que ele também estava solitário, mas o ignorei. Voltei a assistir ao jogo.

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