Meu tio tinha razão: eu estava de pé, porém na parte funda do rio.
O que estaria acontecendo comigo?
De repente afundei. Mas agora as águas não pareciam tão pesadas como antes, então nadei até a parte rasa do rio. Meu tio ainda estava surpreso na margem, e eu, finalmente, conseguia ficar de pé.
- Bom trabalho – disse ele, afinal.
- E agora? – perguntei, ansioso – O que tenho que fazer?
Meu tio sentou-se numa rocha no gramado perto da margem e tirou um livro de dentro da sua mochila. Depois respondeu:
- Apenas ficar aí até… - olhou no relógio - seis horas da tarde – imediatamente me espantei.
- E que horas são agora? – perguntei, pois meu relógio não funcionava mais, devido ao afogamento.
- Exatamente… uma e vinte e oito – essa resposta acabou comigo. Mas a única coisa que tive a fazer foi aceitar
Meu tio começou a ler, enquanto eu lutava para conseguir continuar de pé ali no rio.
O tempo foi passando e o sol quente ia secando minhas roupas. Mas isso não era importante. Eu pensava na imagem que vira quando estava no fundo do rio.
O anjo.
A garota era muito bonita e disse que era meu anjo da guarda. Mas por que aparecera ali? Seria uma caçadora também? Não, impossível. Era, claramente, uma espécie de alma. Com certeza uma miragem. Mas e se não fosse?
Infelizmente eu não tinha a resposta para as minhas perguntas.
Voltei a me concentrar em ficar de pé.
Já havia se passado muito tempo, quando meu tio decidiu parar de ler. Então ele tirou um sanduíche da sua mochila e começou a comer. Eu tentei não pensar naquele lanche, mas minha barriga protestou com um longo e barulhento ronco.
- Ai – choraminguei; meu tio ignorou. – Ei, tio Michael, que horas são agora?
Ele olhou no seu relógio e respondeu:
- Duas e meia.
- Ainda? – resmunguei. Mas meu tio voltou a comer, enquanto eu ainda ficava me segurando de pé naquele rio, morto de fome.
Mais algum tempo havia se passado, quando meu tio comentou:
- Faz tempo que não chove, né Fubuki?
- É – concordei, exausto.
De repente, um barulho ensurdecedor de trovão veio do céu.
- Ah, não – reclamei. Meu tio tirou um guarda-chuva de sua mochila e o abriu. Assim que abriu começaram a cair gostas, e percebi que o tempo havia mudado muito. As gotas geladas caíam, aparentemente, só naquela parte da floresta, onde estava eu e meu tio. Minhas roupas secas se molhavam novamente, e decidi perguntar ao Michael:
- Que horas são?
- Três e quarenta e seis – respondeu ele.
- Como o tempo passa devagar – falei a mim mesmo.
A chuva começava.
Já havia parado de chover, quando vários pombos voavam por cima de mim. E, coincidentemente ou não, um defecou na minha cabeça, me deixando irritado:
- Tinha que acontecer isso?
- Faz parte – ironizou meu tio, rindo da minha cara.
Michael pegou um jornal de dentro de sua mochila e começou a ler.
- Que horas são agora?
- Quatro e doze – essa resposta me deixou ainda mais impaciente.
Meu tio tirou, também, uma rede de sua mochila, e a montou entre duas árvores, e disse, bocejando:
- Vou tirar uma soneca.
- O que mais você tem dentro dessa mochila? – perguntei, impressionado com a quantidade de coisas que meu tio trouxera.
- Só mais algumas coisas – respondeu ele, deitando na rede. Essa resposta foi a ultima coisa que ele falou antes de dormir. Aproveitei que meu tio estava apagado e decidi agachar, pelo menos para descansar um pouco, mas logo me assustei:
- Posso estar dormindo, mas ainda sim estou de olho em você, Fubuki – falou ele.
"Que frase mais estranha!", pensei.
Apenas resmunguei e continuei de pé.
Minha barriga novamente roncou, e eu estava exausto. Porém, percebi que eu não precisava me esforçar tanto para continuar de pé. Parecia que eu estava numa superfície qualquer, sem precisar ter cuidado para não cair.
Bocejei, com sono.
O sol se pôs e o céu começou a anoitecer.
- EI, TIO!! – gritei bem alto, acordando Michael; este, graças ao susto, caiu da rede, depois gritou:
- Por que me assustou desse jeito?!
- Acho que já está na hora de irmos – respondi.
Ele olhou para seu relógio e disse:
- É, você tem razão.
- Que horas são? – perguntei.
- Seis e vinte – agora era eu quem estava furioso.
- E por que você não colocou um despertador para acordar na hora certa?! – gritei.
- Esqueci – disse ele, rindo, sem jeito.
Respirei fundo, muito bravo.
- Pode sair daí, Fubuki – disse meu tio. – Terminamos seu treino por hoje.
Suspirei.
Em seguida saí da água e, quando cheguei à margem, eu percebi que estava muito mais leve. Até me surpreendi.
- Incrível – disse a mim mesmo, surpreso. Comecei a dar alguns pulos, e vi que eu estava mesmo mais leve e ágil.
- O que achou do resultado? – perguntou meu tio, satisfeito.
- Ótimo – respondi, muito feliz. – Qual será o passo de amanhã?
- Muita calma, garoto. Você está entusiasmado demais.
E, de certa forma, meu tio tinha razão. O resultado daquele treino foi impressionante e finalmente eu havia percebido a intenção de ter que me equilibrar naquele rio pesado.
- Vamos ou não? – perguntou Michael, desarmando a rede.
- Vamos – respondi; então fomos para casa, e minha barriga roncou. – Que fome!
Chegando em casa, senti um cheiro ótimo de comida.
Fui para a cozinha muito rápido, onde estava minha mãe e Kaori aprontando o jantar.
- Estou faminto! – disse eu.
- Ainda vai demorar um pouco para sair a comida – lamentou Kaori, o que foi como um golpe para mim.
- Enquanto isso você poderia tomar um banho – sugeriu minha mãe, percebendo que eu estava sujo, suado e fedendo muito.
- É pra já – concordei, correndo para o banheiro.
Chegando lá, uma decepção: meu tio estava no banho.
- Primeiro os mais velhos – disse ele, de dentro do banheiro.
Resmunguei.
Já era nove e meia da noite, quando eu já estava na cama. Foi um dia muito cansativo, onde me declarei para Shimizu e tive um treino duro na floresta com meu tio Michael. Com certeza um dia inesquecível, mas ainda faltava a resposta da garota. Eu não entendia o porquê de ela me evitar daquele jeito. Parecia que algo a impedia de ficar comigo. Shimizu estaria gostando de outro? Não. Eu posso ser idiota, mas percebia a forma como ela me olhava. Eu estava confiante sobre aquele assunto, porém sentia que Shimizu estava insegura. Mas por quê?
Dormi.
Tive um pesadelo.
Eu andava sozinho pela floresta sombria, onde não enxergava quase nada, apenas escuridão e mais escuridão. Eu não entendia por que estava ali, mas pressentia que algo iria acontecer. Até que ouvi um barulho. Olhei para a direção de onde saíra, mas nada. Continuei andando.
- Fubuki – disse uma voz, vindo de algum lugar.
Imediatamente parei, muito assustado.
- Quem está aí? – perguntei, procurando meu anel-espada; mas ele não estava em meu dedo.
Estranhei.
- Queremos você – disse a voz; apesar de não tê-la ouvido muito, percebi que a conhecia de algum lugar. – Venha até nós!
- Cale a boca! – gritei.
Eu estava muito assustado e atento para o perigo. Estava de noite, e eu não tinha minha espada Takohyusei por perto.
A pessoa deu gargalhadas horripilantes.
Então percebi que vinha de cima, e olhei para o alto de uma árvore.
De repente, de cima, um vampiro me atacou, me espantando tanto que até cai da cama quando acordei.
- AAAAHHHH!!!!!! – gritei, soando muito.
Vi que era apenas um pesadelo, então me aliviei com um profundo suspiro. Eu nunca mais tivera pesadelos, mas parecia que eles queriam voltar… E aquele vampiro eu reconheci: era o diretor da minha escola! Mas como?
- Fubuki, você está bem? – perguntou meu tio Michael, entrando no meu quarto.
- Foi apenas um pesadelo – respondi, me levantando, ainda com o meu coração a mil.
- Háháháháhá – riu ele, gozando da minha cara. Fiquei muito constrangido e sem jeito.
- Tio, dá o fora! – ordenei – Vou dormir.
- Está bem - disse ele. – Qualquer coisa pode me chamar – ironizou.
Ignorei e deitei, tentando dormir.
Mas não foi difícil, porque eu ainda estava muito cansado.
Pesadelo de novo! Pensei que nunca mais os teria. Mas o que ele quer dizer? Com certeza é algum tipo de aviso ou mensagem. Será que os vampiros estão tramando algo? Não perca o próximo capítulo de "O Caçador de Vampiros".
Você não pode perder!
Acompanhem ^^
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