As aulas foram passando lentamente e eu não conseguia me concentrar em nada. Eu estava angustiado, e a toda hora olhava para Shimizu. Ela sempre me olhava também, mas quando nossos olhares se encontravam, virávamos nossos rostos. Percebi que ela parecia muito surpresa, e indecisa também. Eu, por outro lado, estava confiante. De algum modo sabia que a Shimizu sentia o mesmo que eu sentia por ela. Mas a vergonha estava muito forte entra nós.
Natsuno percebia esses nossos olhares, o que me deixava sem jeito. E ele, para completar, ria da minha cara!
Finalmente terminou a primeira aula e depois, a segunda.
Agora restara a terceira antes do intervalo.
O professor chegou na sala e encheu a lousa de lição. Mas eu não estava com cabeça para isso, por isso não copiei nada no meu caderno. Eu ficava pensando o tempo todo na nossa segunda conversa, em como seria. E essa conversa, apesar de eu estar confiante, me deixava com calafrios. Seria meio que uma decisão na minha vida. Seria o começo para um futuro feliz?
Finalmente a hora do intervalo.
Me levantei.
Só que quando percebi, Shimizu já havia saído da sala. Apressei meus passos tentando alcançá-la, e desci ao refeitório, sem esperar Natsuno e os outros. Aos poucos o lugar ia enchendo, e eu não via Shimizu. Andei pelo lugar inteiro, até encontrar as duas amigas dela:
- Vocês sabem onde está a Shimizu? – perguntei.
- Não – responderam as duas juntas.
Continuei vagando pelo refeitório, mas nada. Então fui até a mesa onde estava Natsuno, Riku, Yuuki e Joe.
- Não encontro Shimizu em lugar algum – falei.
- Você gosta mesmo dela, né? – perguntou Yuuki.
- Muito – afirmei, sentando numa das cadeiras. – A pedi em namoro hoje.
- E o que ela respondeu? – perguntou Natsuno, surpreso.
- Ela não respondeu ainda – respondi. – Por isso estou procurando Shimizu, para que possamos conversar.
- Então acho que o único lugar onde ela pode estar é o banheiro feminino – disse Yuuki.
- Deve ser mesmo – concordei. – Mas por que ela está me evitando?
- Nem tente entender – riu Joe. – As mulheres são muito complicadas.
- O grandão tem razão – falou Natsuno.
Lanchamos, até bater o sinal.
Todos subiam, mas eu fiquei sentado por mais algum tempo, pensando na vida. Cada vez que eu lembrava o lindo rosto de Shimizu eu sentia algo diferente em mim. Mas também vinha, à minha cabeça, Zoe. Como ela reagiria se soubesse que eu estava namorando? Com certeza seria um choque. É muito ruim fazer alguém sofrer, principalmente quando quem está sofrendo é a Zoe, sem dúvidas a minha melhor amiga. Isso me deixava culpado, mas era a minha felicidade que estava em jogo. Eu não podia largar tudo por ela. Aliás, Zoe ainda é muito nova. Tem uma vida inteira pela frente para encontrar a sua alma gêmea que, por sinal, não sou eu. Mas mesmo assim essa história me abalava muito nesse ponto.
Me levantei e também subi para a sala.
Lá vi Shimizu, que apenas me olhou com certa tristeza nos olhos.
Estranhei.
Fui para o meu lugar, onde fui recebido com Natsuno me zoando:
- Olha o sonhador aí – Yuuki e Joe riram.
- Quem não sonha não consegue o que quer – brinquei.
- Concordo – disse Joe.
- Mas você estava sonhando só com a Shimizu? – perguntou Yuuki, percebendo que a garota não era motivo de todos os meus pensamentos.
- O que quer dizer? – indaguei.
- Nada não.
Percebi que Yuuki era mais esperto do que eu pensava, e isso, de certo modo, até que era bom.
A professora de matemática chegou na sala e passou uma prova. Aparentemente a prova era difícil, mas de alguma forma eu era ótimo em matemática. Não sei explicar o porquê, mas eu conseguia entender perfeitamente.
Terminei a prova – e acho que até tirei uma nota ótima – e a aula acabou. Depois veio a penúltima e, por fim, a última aula.
Os minutos iam passando, e eu ficava prestando a atenção no relógio. Eu sentia que Shimizu novamente iria me evitar, então, por isso, não a deixaria escapar de mim. Como Joe disse, as mulheres são muito complicadas. E a Shimizu era mulher. Eu não conseguia entender o porquê de ela me evitar, pois sentia que ela também gostava de mim. Mas e se eu estivesse errado? E se ela não sentisse absolutamente nada por mim, ou apenas uma pequena atração? “Bom, isso eu tenho que tirar a limpo, e será hoje!”, pensei.
Bateu o sinal.
Shimizu foi a primeira a sair da sala, e eu não perdi tempo e fui atrás. Eu já estava no corredor, onde a vi descendo as escadas. A segui muito depressa, esbarrando em muita gente. Eu estava alcançando-a, mas Shimizu, percebendo que eu estava indo atrás dela, apressou seus passos. Ela saiu da escola e, chegando ao campus, rapidamente entrou no carro que sempre a buscava.
- Shimizu! – gritei; mas o carro já havia partido. Fiquei lá, parado na calçada, rindo à toa, ainda sem acreditar no que havia acontecido.
- Você ainda tem bastante tempo para se resolver com ela – disse Natsuno, colocando a mão sobre meu ombro.
- É – concordei –, tenho bastante tempo ainda.
Depois Riku, Yuuki e Joe chegaram até nós, e Riku disse:
- Fubuki e Natsuno, tenho planos fortes para a semana que vem.
- Planos fortes? – estranhou Natsuno.
- Depois eu explico – disse ele, dando meia volta e caminhando rumo à sua casa; Natsuno e eu nos entreolhamos.
- Deve ser legal ser caçador – comentou Joe.
- Você não sabe o quanto – ironizei, pensando no dia em que perdi meu encontro com a Shimizu, graças àqueles vampiros.
Nos despedimos e cada um foi para a sua casa.
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