Abri meus olhos e levei um grande susto que até cai da cama. Era o Pânico!
- AAAHHH!!!!! – gritei, parando no chão. O indivíduo tirou a máscara e disse:
- Como de costume: te enganei – meu tio Michael e eu soltamos gargalhadas e nos abraçamos.
Já na cozinha, ele me apresentou sua noiva (uma mulher muito bonita) e tomamos café, juntos de minha mãe.
- Tio, é verdade que você quer morar aqui em Tóquio? – perguntei.
- É sim – confirmou ele. – Vou passar alguns dias morando aqui enquanto procuro uma casa para comprar.
- Mas por que você decidiu sair da casa da vó?
- Fubuki, quero construir uma família grande. Lá não haveria espaço para mamãe, eu, Kaori e mais dez catarrentos – ironizou ele.
- Não exagera, Michael! – protestou Kaori, sua namorada; todos rimos.
Terminamos de tomar o café e meu tio e eu fomos para o parque perto de casa.
O dia estava lindo. O clima, ótimo. Caminhamos pelo gramado, conversando sobre Okinawa e eu lhe contei minha nova vida em Tóquio. Então meu tio perguntou:
- Fubuki, vamos treinar um pouco?
- Aqui? – estranhei.
- Está com medo de perder? – me provocou.
- Medo é uma palavra que não existe no meu vocabulário – afirmei.
- Então vamos lutar, não temos nada a perder mesmo…
Nos preparamos e começamos a luta. Meu tio tentava me acertar com golpes, mas eu desviava e contra-atacava. Porém, ele também sabia se esquivar, e era muito rápido. Percebi que eu havia melhorado muito desde o nosso último treino, mas ainda assim eu percebia que ele era melhor que eu. Antes, toda vez que eu treinava com o meu tio eu, logicamente, perdia. E, para piorar, eu nunca conseguia atingí-lo! Mas dessa vez meu tio encontrava dificuldades para me acertar.
- Melhorou bastante, Fubuki – notou ele, sem parar de me atacar. – Mas vamos ver o quanto! – Meu tio começou a dar golpes mais rápidos, como se antes estivesse lutando sem fazer esforço. Ele era muito rápido, e não demorou muito para ele acertar um soco na minha barriga. Depois outro, e outro. Minha sorte é que ele me ensinara a deixar o abdômen duro, porque senão ele já teria me derrotado. Comecei a soar e a cansar, mas minha vontade de lutar estava só aumentando. Usei toda a minha força e habilidade. Meu tio não me acertava mais, e agora era eu quem atacava, o obrigando a recuar.
Meus golpes eram muito mais rápidos que antes, porém Michael ainda estava intacto. Eu estava me exaustando, usando todo o meu poder, e se continuasse daquele jeito eu perderia a luta por cansaço. Meu tio, por outro lado, começara a soar. Percebi uma expressão de muita surpresa em seu rosto, mas ele era muito rápido e ágil. Comecei a me esforçar mais, até que explodi:
- HÁÁÁÁÁ – o acertei no peito com um soco, usando toda a minha força. Meu tio caiu no chão, mas logo se levantou. Eu, por outro lado, não aguentava mais. Minhas pernas estavam trêmulas, meus braços doloridos e o resto do meu corpo imóvel. Meu tio saltou em minha direção preparando um soco, e eu não conseguiria me defender. Mas antes que seu golpe me acertasse ele parou. Faltaram centímetros para ele me acertar no nariz!
Ouvi palmas.
Era Zoe.
Olhei para ela, que disse:
- Você luta muito bem, Fubuki – senti que fiquei vermelho.
- Mas eu perdi – retruquei.
- Ei, Fubuki, quem é? – perguntou meu tio, me olhando ironicamente, como se quisesse me deixar bravo. – Sua namorada?
- Não, não – gaguejei. – Essa é a Zoe, uma amiga minha.
- Muito prazer… - disse Zoe, sem saber o nome do meu tio.
- Michael, tio do Fubuki – se apresentou.
Estávamos os três sentados num dos bancos da praça. Eu no meio, meu tio do lado direito e Zoe no esquerdo. Foi ela quem começou a falar:
- Foi com ele que você aprendeu a lutar, Fubuki?
- Foi sim – confirmei. – Meu tio Michael é faixa preta em Artes Marciais, e me ensinou a lutar desde quando eu era pequeno.
- O Fubuki me enchia o saco – continuou meu tio –, todo dia me pedia para eu ensinar ele a lutar. Onde já se viu um moleque de cinco anos querendo aprender a lutar? Ele dizia que queria ser igual ao Jackie Chan – todos rimos.
- Mas você o ensinou muito bem – falou Zoe.
- Meu sonho é ensinar jovens como vocês a lutar – falou Michael, olhando para o céu. – Sabe, Artes Marciais é uma luta que não só trabalha nossa condição física, como trabalha também nosso raciocínio, nosso intelectual. Um bom lutador sabe controlar seus atos.
Comecei a lembrar do Riku e do Natsuno. Ambos provaram no dia anterior que sabiam lutar muito melhor que eu. Eles eram impressionantes, e a toda hora me surpreendiam. Eu era apenas um lutador qualquer, que muitas vezes tinha de ser salvo por meus amigos. Mas aquilo ia mudar. Decidi fazer uma pergunta ao meu tio:
- Tio, você usou todas as suas habilidades de lutas comigo?
Ele olhou para a quadra e respondeu, diretamente:
- Não.
Eu já sabia dessa resposta, e até fiquei feliz por isso. Mas meu tio inseriu:
- Mas você, Fubuki, está impressionante. Muito mais rápido e forte do que antes. Você finalmente conseguiu me atingir com um soco, feito histórico.
Zoe riu.
- Você ri, né? – brinquei.
- Desculpa, não consegui segurar – disse ela. Sorrimos um para o outro.
- Tio, eu gostaria que você me treinasse mais – essas palavras surpreenderam Michael.
- Fubuki, por que você pretende ficar tão forte? – indagou ele.
- Coisa pessoal – sorri. – Você topa?
- Topo. Mas fique sabendo que eu não vou pegar leve como antes.
- Como assim?
- Você vai ter que trabalhar muito duro, se quiser ficar mais forte. Eu te ensinei a atacar e a se defender, não o ensinei a dar golpes fatais e a ter resistência e força bruta.
- Força bruta? – se surpreendeu Zoe.
- Mas isso é possível? – perguntei.
- Possível é, mas é muito difícil – fiquei muito feliz com as palavras dele. Eu aprenderia a lutar mais, e chegaria até Riku e Natsuno, e isso me dava mais vontade de caçar vampiros. Honraria meu clã e ajudaria a combater o mal…
Até que não é uma profissão tão ruim assim. Mas logo me lembrei de Shimizu. Procurei não pensar nela agora, e meu tio me ajudou lembrando uma coisa:
- Está quase na hora do almoço.
- É verdade. Temos que ir, Zoe – meu tio e eu nos despedimos dela e rumamos à minha casa.
No caminho meu tio me falou uma coisa que me surpreendeu:
- Seu pai já me falou que te contou toda a história.
Fiquei de boca aberta.
- Meu pai…? Tio, então quer dizer que você sabia sobre os… bem, você sabe… esse tempo todo??
- Sabia. Como acha que seu pai conheceu sua mãe?
O que ele queria dizer com aquilo?
- Bom, depois te conto a história – disse ele.
- Hã, ok...
- Fubuki, por que você acha que eu te treino desde pequeno? Foi um pedido do seu pai. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde vampiros iriam te atacar, então pediu para eu te preparar.
- Entendi. Mas a minha mãe não sabe não, né?
- Lógico que não! Claro que uma hora ela vai ter que saber, mas seu pai prefere que fique assim por enquanto.
Foi aí que percebi que a vida de caçador de vampiros seria mais difícil do que eu pensava. Além de me arriscar lutando contra eles, eu teria que esconder de muita gente sobre o que eu fazia. E essa vida “profissional” claramente atrapalharia minha vida pessoal muitas vezes, e isso era um grande problema. Ontem a noite foi um exemplo.
Chegamos em casa.
- Mãe, estou faminto – afirmei; minha mãe e Kaori estavam na cozinha preparando o almoço, e meu tio e eu fomos para a sala assistir.
- Andaram treinando de novo? – perguntou dona Sanae.
- Um pouco – respondeu meu tio.
Ligamos a TV e, coincidentemente, assim que ligamos, um noticiário cortou a programação que estava passando.
- Cortamos nossa programação por um momento – disse o repórter – para dar uma notícia muito estranha. Hoje pela manhã, esta igreja – a câmera mostrou uma igreja muito simples e pequena – foi encontrada repleta de mortos. Quem viu os cadáveres foi este homem que sempre a varre nos domingos de manhã – close num homem baixo, magro e de rosto esquelético.
- Eu entrei aqui – explicou o rapaz – sete e meia da manhã de hoje e me assustei: todos os que estavam nos bancos, o padre e o coro da igreja estavam mortos! Nenhum sinal de vida, apenas sangue e mais sangue – o homem estava muito assustado, mas continuou: – então chamei a polícia.
- O tenente Kashido – continuou o repórter, já com a imagem num policial da cidade – deu uma entrevista agora a pouco para nós.
- A princípio acreditávamos que se tratava de um massacre – falou o policial –, mas analisamos os corpos e descobrimos que TODOS tinham marcas de mordidas no pescoço.
- O senhor quer dizer o quê com isso? – indagou o repórter.
- Eles foram mortos por algum animal ou inseto.
- Tipo um morcego?
- Pode ser também – admitiu o policial. – Mas seria muito estranho morcegos numa cidade como Tóquio.
Daí o repórter encerrou a notícia:
- Ficaremos de plantão por aqui e, a qualquer momento, podemos cortar alguma programação para mais detalhes – daí se despediu e a novela da tarde voltou a passar normalmente.
Meu tio Michael e eu nos olhamos, pois sabíamos do que se tratava.
- Parece que os vampiros estão perdendo o medo dos caçadores – observou meu tio.
- Tenho que fazer alguma coisa – falei. – Isso não pode continuar dessa forma. Muitos inocentes estão morrendo.
- O mundo pode piorar se o Caçador Lendário não for encontrado logo – inseriu meu tio Michael.
- Como assim?
- Ninguém sabe ainda quem é o 11° Caçador, Fubuki. Seu pai está fazendo de tudo para encontrá-lo, assim colocando o mundo em ordem.
- Ahh… Entendi. Mas o que aconteceu com o 10°? – perguntei.
- Pensei que seu pai havia lhe contado – meu tio mostrou uma expressão de tristeza, e percebi que havia sido muito trágico.
- O almoço está na mesa! – gritou minha mãe, da cozinha.
Almoçamos, e o resto do dia foi tudo normal. À noite meu tio e eu jogamos Xbox 360 – que ele trouxera de Okinawa – e, após o jantar, fomos todos dormir. Fim.
Meu tio veio nos visitar!!! Isso é ótimo, porque agora eu posso treinar mais para ficar mais forte que Riku e Natsuno. O que será que ele sabe sobre caçadores e vampiros? O que mais ele pode revelar? Descubra nos próximos capítulos de "O Caçador de Vampiros".
Você não pode perder!
Acompanhem ^^
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