Meu tio, Billy e eu estávamos no meio da floresta.
- Qual será o terceiro passo? – perguntei.
Meu tio bocejou e respondeu:
- Ficar de pé no Rio das Águas Pesadas até o sol se pôr – disse ele. Imediatamente fiquei furioso, mas meu tio logo disse: - É brincadeira – e riu.
Me aliviei.
- Fubuki, pegue Billy no colo – o cachorrinho veio até mim e fiz o que meu tio pediu.
- Pra quê? – perguntei.
- Coloque-o em suas costas – fiz o pedido, estranhando. – Modo Ataque! – gritou meu tio. De repente, senti que Billy estava ficando mais pesado e estava crescendo. Ele assumiu uma forma muito maior e mais forte, até ficar igual à primeira vez que o vi: com sua cara feia, mostrando seus dentes caninos perigosos e seus olhos malignos. Caí graças ao peso.
- Ai! – gritei, no chão, com uma tonelada de peso em minhas costas.
Billy assumira sua forma de ataque, e estava em cima de mim. Meu tio caminhou até mim e gritou:
- Levanta!
- Não consigo – foi o que consegui falar. Por mais que eu me esforçasse eu nem conseguia me mover direito. Aquele cachorro era muito pesado, então parecia impossível eu me levantar! Quando eu estava no rio, eu até que conseguia ficar agachado no começo. Mas nesse novo treino eu nem sequer me mexia direito, sem falar que eu estava perdendo o ar.
Tio Michael sentou-se na mesma pedra de antes e tirou um jornal para ler, enquanto eu sofria com Billy em cima de mim, me esforçando ao máximo para levantá-lo.
- Tio, tenho até que horas para concluir meu treino?
- Você ficará aí até conseguir – respondeu ele, o que me desanimou.
- Sorte que eu almocei – falei a mim mesmo.
Fiquei vários minutos ali tentando levantar, mas parecia impossível. Billy nem se quer se movia! Parecia até uma montanha que estava me esmagando.
- Tenho que conseguir! – falei.
Meu tio ainda lia seu jornal, como se nada estivesse acontecendo. Billy parecia até uma estátua, pois não latia nem se mexia.
- Ei, cachorrinho, dá uma forcinha – pedi; mas Billy nem sequer ligou para o que eu disse.
- Vamos Fubuki – disse meu tio –, se concentra na sua força interna.
Não entendi muito, mas tentei tirar forças do meu interior – a mesma que consegui quando me salvei daquele rio. Me concentrei, mas nada.
- Como eu faço isso? – perguntei.
Michael guardou seu jornal e se levantou, depois chegou até mim:
- Hã? – estranhei, vendo que ele estava bem à minha frente.
- Segura isso! – meu tio me atacou e, quando foi me acertar, consegui desviar alguns centímetros. Meu tio acertou o chão, e percebi que finalmente havia me movido um pouco. Mas como?
- Viu? – perguntou meu tio.
- Ainda não entendi – falei.
- Fubuki, força você tem, porém só consegue usá-la em casos de alerta.
Mesmo assim eu ainda estava confuso. Meu tio deitou do lado da rocha que sentara, e fechou os olhos, tentando tirar um cochilo.
Fiquei pensando no que ele havia me dito.
Lembrei de alguns momentos de alerta que vivi: quando protegi Shimizu dos valentões da escola. Eles iam atacá-la, porém eu já estava lá, defendendo ela bloqueando o golpe de um deles. Foi incrível, porque eu só havia pensado naquilo e já estava lá!
Depois me lembrei de quando estava me afogando no rio. De alguma forma eu me salvara de lá, mas como? Me lembro de ter pensado se tudo acabaria ali. Conheci muitos amigos e estava apaixonado. Não sei se por duas garotas, mas eu estava. Pensei na minha mãe e no meu pai. Qual seria a reação deles quando recebessem a notícia de que eu estava morto… Lembrei-me de Zoe. Aquela garota solitária que, mesmo não tendo muitos amigos, era feliz, e gostava de mim. Mas eu gostava da Shimizu, e sentia na pele o sofrimento da Zoe. Lembrei, por último, de quando meu tio disse: "Mas qual clã precisaria de um herói centenário tão fraco assim como você?".
“Eu não sou fraco”, falei a mim mesmo.
De repente, meu tio disse:
- Não saiu daí ainda… fraco?
De imediato gritei:
- Eu não sou fraco! – meu tio se levantou e olhou para mim, e meu sangue parecia quente. Eu parecia um pouco mais forte, enquanto sentia uma adrenalina interna percorrer minhas veias. Aproveitei minha força extra e tentei levantar. Não consegui levantar Billy, porém consegui sair debaixo dele. Fiquei de pé, com meu tio sorrindo:
- Finalmente – falou ele.
- Ufa – suspirei, cansado e dolorido. – E agora, qual o próximo passo?
- Olha Fubuki, levantar Billy não era um passo – essa notícia veio igual a um golpe em mim.
- Não era? – perguntei, me sentindo um estúpido por me esforçar atoa.
- Era só um teste – falou ele.
Billy já voltava ao normal. Eu percebi que o tempo estava mudando: estava ficando frio.
- Qual o terceiro passo então? – perguntei, impaciente.
Meu tio veio até mim e disse:
- Vou te revelar uma coisa – fiquei curioso, mas meu tio logo continuou: - Há pessoas normais, há caçadores e, além desses dois, Fubuki, há pessoas que tem poderes especiais.
Fiquei surpreso de imediato. O que Michael queria dizer com aquilo?
- Essas pessoas são chamadas de Místicos – falou meu tio.
- Místicos? – perguntei – Mas o que isso tem a ver com o meu treino?
Meu tio se distanciou um pouco de mim e abriu um pouco as pernas. Depois ele começou a se concentrar em algo, como se estivesse meditando.
- Tio? – estranhei.
Ele olhou para mim, e seu olhar mudou. Um brilho verde tomou conta de seus olhos – e, por um instante, lembrei-me daquele anjo que vi debaixo d’água – e meu tio estava mudando! Sua pele estava criando pêlos alaranjados, e seus cabelos bagunçados estavam crescendo. Seus músculos estavam aumentando, e seus dentes não eram mais simples dentes, eram presas!
- Tio, o que está acontecendo? – perguntei, muito assustado.
Mas ele não respondeu. Ainda estava em “transformação”. Suas orelhas estavam ficando pontudas, e seu nariz se transformava num focinho. Ele tinha, agora, uma calda, e sua pele agora era só pêlo laranja.
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